Bokurano
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Womb (Prelúdio: Sidney)

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Mensagem  Admin Dom Ago 01, 2010 2:39 am



Geralmente costumo me ferrar às sextas-feiras. Digo, pelo menos a maior parte do dia, mas quando eu falo “ferrar” não digo no sentido físico da coisa. Como qualquer trabalhador deste país me sinto envolvido pela ansiedade e pela vontade de largar toda a minha ocupação para rumar em direção ao bar, tomar umas e outras, falar as mesmas merdas de sempre – futebol, mulher e dinheiro – e terminar o dia enroscado em alguma gostosa qualquer. Bom, não é todo mundo que tem cacife e peito o suficiente para descolar uma delícia de mulher no fim da noite, ou em qualquer época do dia. Costumo iniciar bem meus finais de semana e terminá-los de maneira épica com isto. Sou um iluminado. Iluminado pelas condições financeiras, pela boa relação dentro de meu trabalho, pelo gosto em trabalhar e agraciado com boas amizades, que embora não sejam de inteira confiança, quebram um galho do tamanho de um bonde. É o necessário, eu nunca poderia esperar coisa maior dos filhos da puta, embora sempre os receba e os visite com um sorriso de orelha a orelha me sinto com a pulga exatamente aí, atrás da orelha, matutando na primeira oportunidade que eles teriam de arrancar minha cabeça e me esfaquear pelas costas. E como estes sujeitos são caracterizados? Pode se dizer que esta alcatéia é tão parecida comigo que não me impressionaria se todos nós trocássemos nossos nomes e sobrenomes, nossas casas, nossas mulheres. Particularmente, sentiria enorme prazer em provar as esposas e namoradinhas dos mesmos – seja novinha ou velhota – , porque, como todos nós sabemos, a vida é para ser vivida intensamente, cada dia vivido de forma notável e especial, como se tivéssemos ciência de que morreríamos na madrugada. Não costumo ser idiota o bastante para festejar toda a sexta-feira colocando em minha boca a típica cantoria et comportamentos favelados, mas em uma coisa somos parecidos: adoramos este dia, que abre para o fim de semana, para o nosso maior prazer, realizado pelo menos 4 vezes ao mês. Ao contrário dos favelados e habitantes da periferia trato direitinho meus dias úteis. Trabalho numa boa, faço tudo o que tenho de fazer, pago minhas contas sem murmurar, compareço a reuniões, ajudo as pessoas, dou o máximo de mim, quase todo o meu sangue neste processo rotineiro. Obviamente teria de descarregar todo este esforço na trinca bebidas, mulheres e debates de botequim, pois com isto me sinto cada vez mais próximo da humanidade. A meta é tornar-se cada vez mais humano e sensível, participando de (quase) tudo que lhe pedem, beijar e afagar criancinhas, entrar em áreas pobres e de risco, sentir a adrenalina correndo nas veias, deixar a alma transitar livremente pelos dois mundos, o mundo pobre e o mundo rico. Eu faço parte do segundo, com todas as honrarias necessárias. Trabalho duro para me manter neste “level” e para aumentá-lo cada vez mais, porque eu mereço. Em comparação a boa parte de meus amigos, sofri pouco. Muitos deles iniciaram sua carreira de baixo, quando andavam de chinelo de dedo em suas antigas ruas nas estradas de chão, outros aportaram à nossa capital federal oriundos do interior do país, trazendo feridas e esperança dentro e fora deles. Os pouquíssimos penaram para arrumar um empreguinho bobo e aparentemente fácil de conseguir, como os de auxiliar de serviços gerais ou servente de pedreiro. Não deram a mínima para a prática de cursos, portanto, se foderam ainda mais. Enfiaram o orgulho e a preguiça no rabo e trataram de batalhar intensamente para chegar onde chegaram hoje. Sabem que não nutro a mínima pena por seus passados porque parte de minha infância e adolescência foi uma merda, mesmo tendo tudo o que queria. Sabe o que significa a palavra “controle”, não sabe, animal? Pois é, foi isso o que ocorreu. Agora, posso curtir a minha vida do jeito que eu quiser, com 40 anos na carcaça, nesta carcaça aqui, olha. Gozo de um patrimônio pessoal considerável, uma serviçal bacanérrima e que faz os melhores pratos – ela sabe que não suporto pouca comida, costuma encher os pratos fundos como ninguém – uma casa em estilo antigo, o trabalho mais gratificante e os melhores falsos amigos. Estou no paraíso ou não estou? Ah, esqueci também de dizer: as melhores mulheres. O problema é que o gosto pessoal de meus falsos amigos paira entre o óbvio ululante e o absurdamente dispensável. Eles preferem as ostensivamente lindas, com corpos tão deliciosos e dignos de inveja como o da Kim Kardashian e da Eva Mendes. Gostam de esfregar suas preferências na cara dos outros, só faltando dizer: “olha aqui, eu pego mulheres melhor que você, lamba meus pés, cuzão” e coisas similares. Exibicionistas típicos, que esquecem que estas gostosuras só estão no colo deles por causa da grana. Tirando o louro de olhos azuis que parece ter sido membro da Igreja dos Santos dos Últimos Dias todos ostentam beleza normal para qualquer mulher. Eu me mantenho sempre aceso, sempre ligado. Estas putas chegam rápido quando são chamadas. Geralmente têm um timbre de voz lamentável, um sotaque carioca matador, que costuma ser irritante nas jovens de 20 a 25 anos. Alguns têm esta faixa etária como preferida, outros preferem as mais velhas, denominadas “MILF”, obviamente mais experientes, sem aquele resquício de inocência e arrependimento que ainda paira na cabeça das mais novinhas. Com estas a vontade de provar seus corpos é maior, portanto, são bem mais frescurentas, é claro. Não querem fazer isso e nem aquilo...por vezes sinto vontade de deixá-las partir de minha quinta esquartejadas, ensacadas, postas em uma grande lata de lixo. Além do sotaque de merda (as paulistanas são piores, pois falam grosso), falam e pensam merda e dão pitacos onde não devem. Mas, confesso, seria um lixo se fossem mais inteligentes que a gente, sério, podíamos perder o tesão por causa disso. É necessário que putas sejam burras, mas com o tempo enjoa. Hoje, contratei os serviços de uma que certamente anda neste mesmo trilho. Bom, por outro lado não contarei novidade alguma aos meus falsos amigos. Marcavam 17:00 e todos se preparavam para se mandar da firma, mas eu já tinha puxado o carro há muito tempo – sou o chefe deles, faço o que quero, ora essa. Me mandei dirigindo o bom Modelo T, descendo a ladeira do Castelo, em direção ao restaurante Espelunca, no bairro boêmio da Lapa, próximo ao Passeio Público. Neste dia fiquei horrorizado com a quantidade de sujeira – humana ou não – nas ruas. Ouvi falar que uma cambada de mendigos migrara da rua Barão de São Félix para as proximidades da Joaquim Silva, sabe-se lá porque. E a Barão de São Félix ficava no outro lado da cidade, atrás da estação de trem da Central do Brasil e da Avenida Presidente Vargas – aberta após a remoção de numerosos cortiços – , o maior local com trânsito de ferro-carris na cidade. Qual é, alguém prometeu mais carne para a sopa deles ou algo assim? Ainda horrorizado, dei uma ligada para a secretaria de assistência social da prefeitura, relatei o caso e prometeram dar uma “varrida” no local ainda hoje. Sei que falar pelo telefone celular ao volante é risco de acidentes, mas não poderia esperar até estacionar o possante. Depois disso, deixei meu carro em um estacionamento por demais escuro e adentrei ao bistrô.

Parte dos putos já tinha chegado. Luís da Rocha Esteves, Marcelo Menezes e Júlio Valeretto estavam com as buzanfas sentadas em cadeiras altas de madeira e estofamento com espuma de banco de carro – vejam só – e futricavam como velhas comadres, com os rostos praticamente colados uns nos outros, dedinhos em riste e sorrisos amarelos. Não me surpreenderia se aqueles três tivessem algum relacionamento homossexual. Abafei minha gargalhada histérica – com as duas mãos na boca – para apreciá-los com mais afinco, sem contar que detestava ser o centro das atenções em um local tosco como aquele. Me encostei próximo à porta, com os braços cruzados, por alguns segundos, até que Marcelo me avistou com o canto de sua bilha castanho-clara. “Ei, o que você está fazendo aí, rapaz? Chega mais!”. Estraga-prazeres filho da puta. Fazer o que, tive de me juntar a eles antes de ganhar meu dia cascando o bico às custas deles. Desencostei da parede pintada de rosa meio decepcionado. Descobriu o Brasil: “Estava curtindo uma com a nossa cara, aposto, não é?”.

- Claro que não, resolvi dar uma polida na parede – respondi, sorrindo como um safado, acariciando a palma da mão na borda da janela. Saí de lá um tanto decepcionado por não ter cascado o bico às custas dos babacas por mais tempo. - E aí, pessoal?
- Esse “e aí, pessoal?” soou meio boiola, mas a gente vai perdoar porque é você – disse Luís Esteves, após tomar um gole de água mineral. Esbanjava lourice em seus cabelos curtos, além dos cintilantes olhos azuis. - Lembro que você já emboiolou outras vezes, só estou anotando no meu caderninho, pra jogar na rua cara depois.
- Enfia esse caderninho você sabe onde, lourinha – disse a ele, ainda mantendo o sorriso safado. – Do que tão falando? Fiquei mordido de inveja por não estar juntinho com vocês, futricando. Tavam tão felizes que resolvi assistir este momento grandioso ali, pertinho da porta.
- Estávamos falando sobre a calcinha que a sua avó me presenteou quando tivemos aquela noite maravilhosa na sexta passada – respondeu Luis, provocando risos em Marcelo. Júlio mantinha-se compenetrado seu celular, como se estivesse ocupado com um joguinho de merda. - Era uma calcinha rosa tão grande quanto uma lona de circo, mas era boa de cheirar. Confesso que bati várias com aquela peça na cara, não vejo a hora de marcar mais uma rapidinha com sua querida vovó.
- Hahah, essa é boa, está ficando bem afiado! - disse a ele, escondendo a qualquer custo minha frustração por não ter argumentos para rebater a zoada. - Vocês já deram uma olhadela em como está a praça da Lapa, aquela próxima aos Arcos? Ali, pertinho?
- Ora, está a mesma merda de sempre, com a diferença de que temos uma nova leva de mendigos – respondeu Luis, tomando mais um gole de sua preciosa água. - Eu passei de carro ali por algumas vezes e até parei para conversar com alguns daqueles miseráveis, de vez em quando é bom trocar papo com pessoas “de baixo”, muitos deles têm muito o que ensinar para engomadinhos como nós.
- Está falando sério? - perguntei, visivelmente incrédulo. - O que têm pra ensinar além de passarem o dia inteiro sem fazer nada, pedir dinheiro, cagar e mijar nas próprias calças, além de pensar e falar besteira? Tá, alguns tiveram um passado notável, mas quando puseram tudo a perder suas conquistas passadas não significam menos que nada, meu filho.
- Mais ou menos, está certo que alguns destes putos estão onde estão por exagerarem na bebida, mas pense que alguns ali são doentes mentais. Certamente a família abandonou, além do que, sofreram abusos sexuais. Digo, se é pra transar, que transassem com as pessoas certas, é claro.
- Você tem toda a razão, escoteiro – disse a ele, dando risadinhas. - O que te passaram de bom quando conversou com eles? Pelo menos viu se tinha alguma mendiga gostosinha dando sopa entre eles? Sempre tem, ainda mais aqui na capital federal. Não sabe o quanto de retirantes que vêm para cá viver nas ruas, algumas delas vem daqui de perto, da Baixada Fluminense. Ano passado eu estava passando por Marechal Hermes e vi uma mendiga gostosa, com uma banda da bunda aparecendo, as roupas estavam um trapo e ela estava tão suja que nem dava para saber a verdadeira cor da infeliz. Só não peguei pra comer porque eu tava sem carro e você sabe, nego pensa que você é um aproveitador, se der alguma brecha para isso.
- Ué, mas você não seria aproveitador de qualquer forma? - perguntou Luís, como se me imprensasse contra a parede. - E olhe que não seria o primeiro. Já rodei pelo Orkut e soube que tem jovens empenhados em transar com mendigas por aí.
- Eu...não...acredito. - disse a ele, com a mão sustentando o queixo. - Você freqüenta a porcaria do Orkut, homem?
- Qual o problema? Sei que você, Marcelo e o Júlio também freqüentam – disse ele, abrindo as mãos. - Sei que adoram o Facebook, mas aquilo é um verdadeiro lixo, não consegui me adaptar. Tem uns aplicativos desnecessários, o que só representa o estilo frio dos estadunidenses, dos demais estrangeiros. Tanto que eles adoram aquele lixo. Sei lá, prefiro as coisas mais simples e de preferência, mastigadinhas. Sou como vocês, um moleque mimado, acostumado a ter comida na boca.
- Nem tanto, nem tanto – disse Marcelo, tomando um gole da água de Luís. - Mas, vocês realmente sentem tesão por mendigas?
- Bom, não sei quanto ao Júlio, mas sentimos sim, só que não encaramos como fetiche – respondi. - Dependesse de mim, tirava uma delas da rua, lavava todinha, cuidava, essas coisas. Só não casaria porque aqui no Brasil poligamia é crime, sem contar que minha japa provavelmente iria matá-la. Não quero um acontecimento desses no meu currículo, sabe?
- Ninguém quer, mas me fale mais dessa japa – disse Luís, arregalando os olhos.
- Iih, vamos mudar de assunto nessa porra – falei para ele, empurrando-o levemente. - Que tal darmos um pulinho ali nos Arcos e catarmos umas daquelas miseráveis pra meter hoje à noite? Com camisinha, claro.
- Nem, tenho uma reputação a zelar – recusou Marcelo, fechando os olhos com nojo. - Luís?
- Sem problemas, mas precisamos de um carro para entocarmos rápido as garotas – contou ele, empolgado. - Antes que me pergunte, neste dia em que conversei com eles notei duas mulheres, uma de mais ou menos 25 anos, cabelos desgrenhados e longos, e a outra era uma negra, aparentemente quarentona, de peitões enormes. Creio que dará para se divertir bastante, mas é melhor deixar isso pra depois, quando estivermos completamente desocupados.
- Mas sempre estamos completamente desocupados, caralho. Praticamente não trabalhamos, pelo menos eu, não. Marcelo tem cara de quem dá um duro danado no trabalho, posso até notar uns filetes de suor na têmpora dele, saquem só – disse, apontando para o mais jovem, de cabelos castanho-escuros curtos, ostensivamente lisos e repartidos. Me fitava com olhos-castanhos enormes. - Vai me dizer que você, Marcelo, mete a mão na massa com mais intensidade que a gente? Sério mesmo?
- Nada, meu trabalho não difere muito de vocês, sabem disso mais do que ninguém! - exclamou o rapaz (de 30 anos), como se estivesse sendo acusado de um crime.
- Não difere? Nós não somos office boys, tô sabendo que você costuma levar encomendas aqui e ali, aceita desaforos dos outros empregados dentro e fora do trabalho e coloca este terninho Armani só para parecer executivo. Qual é, sabemos tudo sobre você – acusei, apontando o dedo indicador e tudo mais.
- Nada disso, pare com essa palhaçada! - bradou Marcelo, batendo na mesa, quase chamando a atenção. Fora contido por Luís.
- Office boy de uma figa, hahaha – fiz troça, rindo abertamente. - Tá, parei de zoar, vamos falar sobre as mendigas. Pretende realmente sair com elas ou vai peidar na tanga, Lulu? Se marcar, não poderá andar pra trás.
- Olha, eu vou pensar. Não por essa discussão idiota, mas porque pretendo refletir direito antes de usar uma pessoa – disse ele, tomando mais um gole de sua água. - Pode me chamar de “paladino”, “santo”, o que for, mas não somos mais moleques, mesmo tendo dinheiro temos que pensar que não se pode usar as pessoas só por isso. Sei que irá fazer uma cara de bunda agora mesmo.
- Acertou na mosca, chefe – falei para ele, levando as duas mãos à testa, arrastando-as com sofreguidão. - Ok, vamos fazer uma coisa, esqueçamos as mendigas. Mas, eu gostaria de sair esta noite, pelo menos para fazer o mesmo esquemão de sempre: pedir um bom prato e uma boa bebida (caipirinha, de preferência), encher bastante o cu pra curtir direito este fim de semana. Vai me dizer que cansaram de fazer isso? Júlio? Júlio, o que você tá fazendo?
- Tô meio ocupado aqui, acabei de ligar para o Tito – disse ele, sem nos olhar, compenetrado em um joguinho babaca qualquer em seu telefone celular. - Terei de voltar mais cedo pra casa, sinto muito decepcioná-los.
- Puta que me pariu, não acredito – pousei a mão na bochecha esquerda, explicitando tédio e frustração. - Beleza, temos um pastor evangélico, um homem subjugado pelo namorado (deve ser um parceiro ma-ra-vi-lho-so!), e você, Marcelo? O que pretende fazer? Voltar para a casa porque tem que jogar Tibia? Eu poderia esperar esta decisão de você numa boa, pode crer.
- Eu apenas ficarei em casa sozinho, na internerd, fora isso tenho alguns trabalhos para entregar na segunda feira – respondeu ele, meio trêmulo. Certamente por medo de minha reação. - Mas veja, podemos deixar isto para a próxima sexta, acredito que pelo menos o Júlio poderá estar disposto...
- Sem essa, vocês acabaram com minha sexta-feira – era só o que faltava: minha malcriação. - Luís, eu precisava de você pra comer uma das mendigas, pelo menos isso, mas se não puder ajudar um grande amigo irei sozinho...
- Ah, pelo amor de Deus, não vem com essa. Pague uma puta para alegrar sua noite, não precisa usar quem já está na merda. É desumano, tá, você pode me chamar de “pastor”, “padre”, “rabino” e o caralho à quatro, mas é a verdade. E já estamos falando demais, vamos pedir alguma coisa pra comer – disse o louro, chamando o garçom com um aceno rápido. Pediu com delicadeza. - Bom, quero 2 sanduíches de peito de peru e queijo minas, aqueles grandões. E vocês, miguxos?
- Hum... quero o prato 3, macarrão verde e carne de panela, pode caprichar, sim? - perguntou Marcelo, já recomposto.
- Feijoada. Hoje é dia de feijoada, certo? - perguntei para o garçom, que fez “sim” com a cabeça semi-raspada. - Então, manda.
- Er...quero o prato 3, também – disse Júlio Valeretto, ainda entretido no joguinho.
- E pra beber? - perguntou Luís, tomando as vezes do garção. - Quero uma vodca, qualquer marca tá bom.
- Caipirinha – respondi de pronto.
- Coca-cola – respondeu Marcelo, fitando o profissional com seus olhos arregalados.
- Hum...ah, é minha vez? - indagou Júlio. - Uma coca, mas diet. - Com isto, o garçom se foi.
- Tá saindo com ele? - perguntei, implicante como sempre. - Tão escolhendo as mesmas coisas...
- E qual o problema com isso? - perguntou Júlio, explicitando tédio, como se explicasse aquilo pela enésima vez. - Aposto que você tem algo em comum com seu melhor amigo e nem por isso ficam duvidando da sexualidade de vocês dois, chamando-os de boiolas e tudo mais. Falando nisso, você não costuma sair muito com o seu melhor miguxo, onde está?
- Está no Japão, tinha dito isso a vocês todos na semana passada - respondi, tomando um gole da água de Luís. - É um japanófilo, aficçionado por aquelas caralhadas de mangá e anime, mesmo com trinta e tantos anos na cara...pra você ver, tem certas pessoas que não mudam. Lembro dum sujeito que com quase 50 anos na cara ainda se veste de Peter Pan e ainda sustenta um site falando de suas estripulias... sem contar no gordaço de quase 60 anos que já fez mais de 100 tatuagens de personagens da Disney, um doido, por isso já perdeu diversas mulheres. Perdeu porque mereceu, já que poucos chegariam ao limite de punir a si próprio e aos outros com estas obsessões.
- Você acha que estes..."defeituosos" são o que são porque querem, tá redondamente enganado - disse Luís, tocando meu antebraço. - Está na cara que o tal gordão tem um problema comportamental e que deveria ser tratado... geralmente este tipo de gente sofre algum trauma, poderia acontecer com qualquer um de nós. Eu deveria apostar contigo que nem todos na sua família são perfeitinhos, mas perderei meu tempo, todo mundo sabe que você gosta de ver o circo pegar fogo, não posso te dar este gostinho. E Marcelo, como anda com aquela garota?
- Não estou nem aí, mas certamente iria querer fazer você se arrepender de ter se apostado comigo - disse a ele, que fingiu não ligar. Direcionei meus olhos a Marcelo.
- Bom, eu decidi que não devo mais perder tempo com ela, passei um ano conversando pela merda do MSN e não me veio nenhuma recompensa por este esforço - respondeu ele, esfregando a testa com a palma da mão. - Tenho uma honra e não posso mais manchá-la por causa de gente que nem conheço. Já bastou, encheu completamente minha paciência.
- Que menina é essa, rapaz? - perguntei, interessado.
- Já deveria saber que o desfecho seria esse - disse Luís, olhando o teto com impaciência. - Ele está falando da mãe solteira que tentou pegar em Teresópolis, de 35 anos.
- Pode explicar pros amigos o que realmente aconteceu? - perguntei, debruçando-se à mesa.
- Simples, eu viajei para Teresópolis à negócios, mas por causa dela estava pensando em comprar uma casinha lá, no bairro dela. A paixão aparentava ser recíproca, então acabei me esforçando pra alugar um quartinho, antes de tudo, dar uma visitada na casa dela, mas nem tinha como combinar isso, pois ela não entrava no MSN há 3 meses. Sabia que eu queria visitá-la o quanto antes, só que deu chá de sumiço, não tinha como avisar alguma coisa. De noite, num frio desgraçado, dei uma ligada, me identifiquei e ela desligou o telefone na minha cara. Simples assim. Acabou comigo.
- Você cometeu uma besteira perdendo tempo com este traste - disparei para Marcelo, que respondeu fazendo caras e bocas. - Mulheres de internerd não valem a pena, sabe muito bem. Já tentei me aventurar num destes sites, mas nego fala muita merda e tá lá com o propósito de ferrar o outro.
- Não sabia que você tinha experiência em salas de bate-papo - sussurrou Luís, sorrindo.
- Apenas 3 vezes - disse a eles. - Só, significou porra nenhuma. Só serviu pra reforçar minha opinião sobre estas pessoas. O mundo é fútil, todos, inconscientemente, sabem que a melhor maneira de passar bem neste plano é ser idiota. Mesmo inconscientemente eles concordam e seguem com isto!
- Tem um pouco de razão nisso - disse Marcelo, de braços cruzados, apontando para mim de forma afetada. - Mas, sabe que nem todos fazem parte da mesma merda, né? Bom, você é bem mais velho que eu, portanto...
- Sim, sou bem mais velho que você, que já erra não me chamando de "senhor" - digo, apontando para ele da mesma forma. Observo o semblante de Marcelo, constrangido. - Você deve ter bastante tempo livre pra perder nestas porcarias de sites de relacionamento e MSN. É um vício fodido, né? Mas, pra quem se diverte horas com isso você não deve trabalhar nada, então, seja bem-vindo em definitivo ao nosso time!
- Deixa de bobeira, Sidney, é melhor ele falar da sua vida pra gente que para uma mulher que poderia enchê-lo de lugares-comuns do tipo "na vida, todos temos problemas" e "não fique assim, Deus vai te ajudar" - disse Luís, tentando apertar meu pescoço. - Aliás, o que tem de gente que quer doutrinar as pessoas falando de Deus, nem que seja por um segundo, é imensa.
- Ué, estamos vivendo em um país católico e latino, o que você quer? - perguntei a ele, olhando em suas duas bilhas azuis-turquesa. - Nem consigo levar a sério esses alienados, oras. Olhando por um prisma melhor, eles não estão preocupados com o seu próprio país! Foi um dos motivos que me levou a sair da Índia para cá. Alguém tem de dar uma agitada aqui, melhorar as coisas, e já que os próprios brasileiros não estão fazendo nada (ou fingindo que fazem ou fazendo pouco) me prontifiquei para tomar o lugar deles. O que posso fazer, eu gosto daqui, poderíamos estar no mesmo nível que os Estados Unidos e Inglaterra, mas como minha filha disse, "aqui só tem tamanho".
- Hahah, está certo e até votarei em ti em 2012, mas não generalize - Luís, falando comigo, e não tirava os olhos de mim mesmo com os pratos vindo para nossa mesa. - O povo anda muito mal assessorado, está certo, mas poderemos ensiná-los a votar direito, a agir direito, a lutar por este país...
- Me desculpa, mas isso é a mais pura conversinha, e parece bem pura mesmo, pois está vindo de um homem "puro" como você - disparei para ele, olhando sadicamente. - Não dá para dar um crédito. Sabe há muito tempo que sou o tipo de homem que faz ao invés de falar e falar. O que tem por aí é uma porrada de pessoas com o comportamento oposto. No fundo, você sabe que estou certo e que tenho plenos poderes para fazer a diferença, não só nessa cidade, mas no país inteiro. Mas, é aquela coisa: vai ser muito difícil chegar à presidência ou ao menos na câmara, por isso que estou contando com a "mãozinha amiga" de vocês, preciso de um empurrãozinho dos meus amigos poderosos e da população. O morro do Castelo é todo meu e faço por onde para tê-lo, os ajudo sempre que preciso.
- Com centros sociais? - pergunta Luís. - Com isso você praticamente fincou seus propósitos naquele lugar, para nenhum outro candidato mais entrar. Me desculpe dizer, mas o povo lá de cima está praticamente escravo de seus serviços, já que nosso serviço público é uma porcaria em quase todos os sentidos. Ao mesmo tempo que os ajuda, você os aliena e os coloca em um beco sem saída do tipo, "não tem jeito, terão de votar em mim".
- Se eu não fizesse isso outro iria fazer - justifiquei a ele, pegando os talheres. Marcelo ouvia a conversa atentamente, sem tocar em seu prato. Júlio, preparava-se para comer, já tinha posto o celular na bolsa - Você tem ciência de que existem redutos eleitorais que acabam sendo necessários. Praticamente todos os políticos e aspirantes fazem a mesma coisa que eu. Quem não tem ninguém não chega sequer a presidente de grêmio estudantil, é necessário angariar contatos, conseguir novos amigos e admiradores. Nunca tratei mal aquele povo e se estou fazendo que gozem de meus serviços (que o Estado deveria fazer) é porque sou melhor que o Estado, melhor do que toda esta merda aí. Eles são incompetentes por natureza. Só estou cavando o meu espaço para dominar esta cidade.
- Você diz "dominar esta cidade" de forma megalomaníaca, hahah - diz Luís, antes de comer. - Mas, entendi o que quer dizer. Por um lado, era melhor você conquistar o que vem conquistando ajudando o povo do morro do Castelo, não poderiam esperar você ser eleito para serem auxiliados. Aliás, eles precisavam ser ajudados de qualquer forma. Os poderosos dessa capital estão pouco se importando com eles.
- Isso mesmo. Falando nisto, quero que toda a população da cidade tenha um tratamento igual - determino.
- Você é socialista? - perguntou Marcelo, espantado.
- Claro que não, mas pelo menos nos serviços bás...ah, a quem eu quero enganar, nunca teremos um tratamento igual ao dos pobretões - digo, frustrado. - A-DO-RO o capitalismo, e vocês idem.
- É assim que se fala. O ser humano como um todo é péssimo para criar um sistema socialista - diz Luís, esbaldando-se em sua comida. - Agora, coma um pouco, depois a gente conversa mais. Júlio, o que você está fazendo na hora da janta?
- Quieto, estou fazendo uma ligação importantíssima para a nossa noite. Pô, tu pareces minha mãe me repreendendo.. - diz ele, rindo, com a enorme orelha esquerda colada ao seu celular. Tanto eu quanto Marcelo e Luís poderíamos ouvir nitidamente vozes femininas saindo do aparelho. Descaradamente, abrimos sorrisos. Me viro para Luís.
- Pensei que você tinha efetuado encontros com a Maritza e suas amiguinhas para esta noite - cobro a ele.
- Achei por bem passar pro Júlio, ele manja mais das putarias que a gente, sem contar que tem um papo melhor - disse o louro, calmamente. - Falando nisso, não sei o que você vê na Maritza.
- Ela faz parte de um dos sites de nu mais badalados do momento, sem contar que é uma MILF gostosa pra cacete. Peitão, coxão, quilinhos extras que casam com o resto, beiços carnudos e bunda notável - explico a ele, gesticulando. - Muito melhor do que qualquer novinha que você anda babando ad nauseam. Nem adianta discutir comigo por causa disso, cara.
- Ok, ok. Marcelo também gosta de mulheres de meia-idade - disse Luís, direcionando o polegar a Marcelo, que se empanturrava caladinho.
- Tem que ver se ele conseguiu contato com a Maritza pra esta noite... - sussurrou Luís, antes de comer. Certo que fiquei nervoso, pois Júlio realmente obtinha os melhores contatos, poderíamos contar com ele para tudo neste ramo de putaria, mas pecamos por dependermos demais nele nisso. Eu sabia onde Maritza costumava bater ponto àquela hora e até mais um pouco, mas sempre que passava nos locais nunca a encontrava. Enquanto misturava o feijão repleto de carne e gordura no arroz e no aipim, perguntava para mim mesmo: "como um puto destes pode saber onde Maritza está e eu, que praticamente 'stalkeio' a infeliz, não?". Incomodava o fato de me sentir menor por conta disto, claro. Era como se todos os meus esforços para comer aquele bucetão fossem menos que merda, mas não poderia me deixar abater. Eu, como amigo do sujeito, simplesmente poderia pedi-lo para dividir seus "poderes", pois com esta facilidade tudo tornaria-se mais aconchegante. Eu tinha tanta grana quanto ele, talvez mais, mas um gordinho como Júlio tinha as centenas de contatos ao seu favor. Era o melhor no que fazia, de nossa roda. Certo, eu poderia terminar minha gororoba e sair do restaurante em direção aos locais que Maritza poderia estar. De nada adiantava ligar, o modo era pegá-la de surpresa, para que não dissesse "diga que não estou, diga que fui para Pindamonhangaba" ou coisa similar. Eu deveria agir como um adulto nesta questão quase óbvia de que ela não queria ficar comigo, mas precisava de 100% de certeza antes de abandonar o barco. Talvez, não abandonasse nem se fosse desprezado formalmente por ela. Teria ao menos que tirar uma casquinha daquela gostosa. Luís se alimentava na tranquilidade, Marcelo agia como quem não comia há tempos, Júlio ainda se via afogado em sua conversa telefônica. Já poderia imaginar o que estes três fariam após a saída com as garotas (falando nestas, me senti levemente tenso, pensando no tipo de mulher que ele estaria convidando para um drinque conosco).
- Está pensando em convidá-las para qual restaurante, Júlio? - perguntou Luís, repentinamente, sem tirar os olhos do prato. Fitei Luís, o gordo, este respondeu acenando a Luís para que aguardasse a resposta completa sobre a saída.
- Não aguento mais essa calmaria - resmunguei, trincando os dentes enquanto mastigava a carne. - Vou pedir mais uma caipirinha.
- Ok, tudo certo - Júlio disse, olhando para o teto. Estava para concluir a conversa no celular. - Beleza, estaremos aí. Tchau. - Desligou, sereno. - Muito bem, pessoal. Consegui marcar um encontro com duas mulheres maravilhosas. E Sidney, não é sua Maritza. Você terá de dar seu jeito pra foder essa mulher.
- Sei disso, manda, quem são as belezocas, e quantas são? - perguntei, demonstrando arrogância. Até cruzei as pernas e virei o corpo. Luís e Marcelo engoliram a comida bastante atentos. Eu não poderia esperar nada desse pessoal em relação a Maritza, pois pelo que vi, além de não estarem interessados nela mesmo se tivessem não teriam culhões o suficiente para comê-la. Enquanto penso nela penso na visita que farei ao município de Paty do Alferes, quando for "resgatar" minha filha daquele fim de mundo. Um fim de mundo até bacana para morar, mas um sujeito ostensivamente urbano como eu morreria de tédio naquele espaço. Teria de descer o tempo todo para a capital, se morasse ali. Lembro do último telefonema em que papeamos, se dizia integrada ao local, onde ajudava nos afazeres de casa, aquela parada clichê do campo de cuidar de pomares, hortas e assistir seu canal de tv aberta movido por antena parabólica. Residia com seus parentes no distrito de Avelar, um tanto distante do centro dali. Se dizia maravilhada por experimentar a vida rural como não experimentou em Bristol, seu antigo lar na Inglaterra. Pelo jeito, terá de se readaptar novamente. É uma pena, pois esta mudança de climas e ares poderia foder a cabeça daquela meninha. Júlio disse uma coisa, mas não prestei atenção e acabei pedindo para que falasse novamente.
- Sidney, Vlada está querendo te conhecer, e Luís, Sasha é praticamente sua, ainda mais por aquele fato...
- Sim, eu já a conheço e conheço Vlada, também - disse Luís, mastigando. - É provável que Sidney deteste Vlada, hahaha.
- Porquê? - indaguei.
- Ela é de um tipo físico que você detesta.
- Qual tipo? Desembucha.
- Magra demais, cara, parece anoréxica, aidética - respondeu, aos risos. Marcelo, não incomodado por estar fora do encontro iminente, engoliu seu sorriso e Júlio efetuou uma careta, que incrementou com risinhos abafados. Comeram observando minha reação, me devorando com os olhos.
- Tudo bem, não ligo - digo, fechando os olhos. - Pelo nome é uma modelo destes países obscuros próximos da Rússia ou algo parecido? É uma "modelo" de verdade, não uma garota de programa, certo?
- É uma modelo de verdade, tanto que trabalho com ela - respondeu Júlio, bebendo. - Magrelinha, mas é uma ótima pessoa. Conversei com ela pela primeira vez na Semana de Moda de Paris do ano passado, bem antes de eu chefiá-la. Desfilou com diversos vestidos Totori Monou e Marcus Zanetti, você sabe, os melhores da coleção outono-inverno de 2009. É mais conhecida por sua magreza (uma das maiores representantes da "beleza magra" no momento) que por seu talento nas passarelas. Ela sabe que está perdendo terreno, porque 80% dos desfiles são feitos com modelos bem mais corpulentas, com IMC normal. Acho que até tenho algumas revistas falando sobre a rapariga - Júlio mete a mão em sua bolsa negra reluzente, provavelmente de algum estilista famoso, e bastante cara. Aquele gordo era o primeiro em ostentação de grana e mesmo assim, como eu, frequentava os bares pé-sujo da Lapa e região. Dizia para si mesmo que precisava se manter no "mundo real", "nas raízes" mesmo enchendo o rabo de grana todo mês. Júlio era o diretor criativo de uma grife de roupas femininas do Tim Ford, o segundo na hierarquia. Tremendo mão aberta.
- Fico surpreso como ela ainda sobreviva em um trabalho como esse - disse Luís, observando uma capa de revista de moda, retirada por Júlio. Este me entregou e logo notei o semblante triste e levemente arrogante de Vlada Deslyakova: cabelos louros e longos, crânio pequeno, olhos azuis-claros, extremamente pálida. - A última sobrevivente, poucas modelos são tão magras quanto ela. Vai acabar perdendo o emprego algum dia desses, querem apostar quanto?
- Já conversei com ela no Skype sobre isso. Nada dela e de sua chefe mudarem de idéia - respondeu Júlio, sério. - Bom, se ela não tiver mais nada para fazer é capaz de terminar aos seus braços em definitivo, Sidney. É capaz de você seduzi-la esta noite para conquistar sua confiança, além de outras coisinhas...sei que você tem as manhas de pirar a cabeça de uma guria.
- Ela é de onde? - perguntei, comendo enquanto observava uma foto dela.
- Omsk, na Rússia - respondeu o gordo, de pronto. - 22 anos. Falei bem de você para ela (fora de brincadeira) e acredito que um homem maduro como você não iria me decepcionar. Tá, forcei a barra, você não é maduro nem aqui e nem na China. Ela retornará para Londres no dia seguinte e me disse que queria se divertir, mas não do modo mais clichê possível. Como a conheço, curte uma boa bebidinha, parques, passeios, estas coisas. Você subirá para o interior amanhã, certo?
- Sim, terei de pegar minha filhota, marquei com ela há tempos - respondi. A verdade era que Júlio me instigara a investir na tal modelo, embora não estivesse ansioso para tal. Luís sacou que eu poderia me divertir curtindo a noite com uma pessoa tão imbecil quanto ela (vocês sabem, modelos podem ser rotuladas de "imbecis" mesmo não as conhecendo, e você sempre acerta, pois elas mostram ser imbecis depois), mas mesmo sendo imbecil poderia passar alguma coisa boa, nem que fosse a buceta. Ele queria que eu esquecesse Maritza de uma vez por todas, considerava uma piranha e que piranhas não mereciam tanto esforço assim. Poderia estar certo. Sempre que saía com Júlio queria me empurrar estas pseudo-personalidades, todas saídas do mundo da moda, do MA-RA-VI-LHO-SO mundo da moda, um mundo tão superestimado (sabe-se lá porquê) e vazio que eu queria me manter longe, mas ele sempre me colocava junto. O que eu poderia contribuir para a porra do mundo da moda, afinal? Tenho 40 anos de idade (embora aparente bem menos), e me aborreceria com todos aquelas fricotes e meninas enjoadas. Eu não poderia ser o "comedor dos bastidores", porque não me imaginava nisto. Queria uma mulher para casar, a idade já estava pesando, e até quanto me comportaria como um moleque de 20 e tantos? Tenho uma mulher, até. CL. Mas CL é tão imprevisível que ficaria difícil confiar. Esperava uma ligação dela naquela noite. Prometeu sossegar alguns dias, dormindo na caminha quentinha, se entupindo de frango grelhado, Coca-cola e assistindo televisão. Essa era a futura mãe de meus filhos, a mulher na qual escolhi (e ela me escolheu, é claro) para permanecer juntos até que a morte nos separe. Uh, que bonitinho. Só que é aquela coisa, acabei de dizer, CL é tão imprevisível que fica difícil confiar. E eu poderia me enganar facilmente nesta questão de "até que a morte nos separe" justamente por isso. Um dos motivos para eu sair pegando mulheres por aí, dando talagadas até acertar numa que eu realmente goste. Não sei se Vlada poderia cair nesta, pois européias (em especial russas) não costumam pegar no tranco tão fácil nas coisas do coração. Sim, tô calcado no clichê mesmo, e daí? Pelo menos pra mim, foi sempre assim (apesar de não ter muitas russas em meu currículo). Latinas são, obviamente, mais quentes e mais sentimentais, e isso independe do sexo. Faveladas não se importam em você não ligar para elas no dia seguinte, patricinhas são cheias de frescuras e por aí vai. Isso, tô calcado no clichê. É provável da tal modelo saco de ossos sair como a encomenda, fria, inexpressiva e enjoada, entretanto, estou acostumado a lidar com isso. Lido com todo o tipo de mulher. Aceitei o desafio (nossa, que emocionante) de me encontrar com Vlada, acompanhando Luís e Júlio para o restaurante...qual era o restaurante mesmo?
- Marquei o encontro no Toca do Peixão, no Largo do Machado - disse Júlio, terminando seu pratão. - Pelo jeito, terão que deixar as mendigas de lado. Não precisam comer rápido, marquei para as 19:00.
- Falta pouco, então - disse a ele, olhando para meu Rolex de prata, presente de CL, enquanto comia. - Cês vão me chamar de bicha, é que, não estou mais agüentando...
- Quem mandou escolher feijoada, idiota? - perguntou Luís, arregalando os olhos. Marcelo riu, o desgraçado. - Coma só o que der pra comer, ué. Para sua sorte aqui não pagam taxa por grama deixada no prato.
- Chega, não vou mais comer. Ainda preciso deixar o estômago pronto para drinques posteriores. Não quero fazer feio com a tal modelo espetacular que o Júlio paga pau - concluí a comilança, deixando a colher na superfície vazia do prato. Terminei minha caipirinha, que pousei na mesa com firmeza, pronto para a próxima etapa. - Acabou, Marcelo? - perguntei a ele. – Engole esse riso.
- Não precisa se preocupar, não tenho lugar no encontro, pelo menos hoje - respondeu ele, acenando para mim. Senti certa pena do rapaz ao presenciar aquele gesto e os olhos naturalmente grandes fitando o chão, desanimados. Marcelo era cara e focinho do jogador Mesut Özil, da seleção alemã, que jogou a Copa de 2010, na África do Sul. Desde os cabelos até a cor da pele. Mas, Marcelo não tinha origem turca.
- Espero que você não dê uma recaída voltando para a sala de bate papo - disse Luís, gargalhando abertamente. Dessa vez, eu não ri. Alguns coitados em particular merecem meu respeito.
- Vamos sair fora - falei para o trio, ou melhor, para Luís e Júlio, este último já abria sua carteira com simplicidade. Luís chamou o garçom, este apareceu de pronto e pagamos. Só R$ 50 na brincadeira. Movido por uma repentina aflição, queria dizer alguma coisa para Marcelo, que não rachou conosco, queria pagar sozinho, e ainda não estava querendo sair do estabelecimento (pois seu prato ainda estava cheio). Não consegui me segurar e dei um "meio-abraço" em Marcelo, que sentiu-se bastante envergonhado com o gesto. Claro, os outros dois ficaram desconcertados com o gesto imprevisível. - Sairemos mais vezes quando tivermos oportunidades. Só não volta para aquela merda de sala de bate-papo, cara.

Já achava toda aquela pieguice algo bizarro. Eu não costumava ser assim, especialmente quando disse coisas como “Só serviu pra reforçar minha opinião sobre estas pessoas. O mundo é fútil, todos, inconscientemente, sabem que a melhor maneira de passar bem neste plano é ser idiota. Mesmo inconscientemente eles concordam e seguem com isto!”, vocês não sabem quão me senti ridículo falando desse jeito, tão formal, tão engomadinho e bicha. Senti vergonha de mim mesmo, mas era provável de que os três tinham esquecido. Além de idiota, me senti um boneco, que lê revistas de variedades, fica fissurado nas páginas de Política, absorve o que foi escrito por ali e vomita na cara dos outros, como verdade absoluta. A intenção daquela noite, claro, não era me sentir mal por conta de uma coisa imbecil como essa, mas não tive como segurar direito esta sensação. Péssimo, sabem o que significa isto, certo? Eu precisava me manter em pé para o encontro com a modelo – sinceramente, não me via tão interessado em participar disto – e com a mulher que talvez poderia encher a cama de Luís, que também, não sentia-se 100% disposto. A verdade era que Júlio queria nos ver engatados com alguém, dentro de sua cabecinha pensava que nossa existência só fazia sentido relacionados com alguma mulher, em especial, de modo definitivo. Ele sabia que eu era um garanhão, mas que como amigo queria o melhor para mim. Sempre me empurrava mulheres, só que não sabia escolhe-las, pois quase sempre eram modelos. E vocês sabem a minha opinião sobre as mesmas. Eu estava com cabeça para terminar meus dias com uma mulher de família, eu até poderia desistir de tudo isso e viver feliz nos braços de CL, mas ele não confiava nela. Nossa amizade tinha mais tempo que a minha união com a norte-coreana, por isso achava-se no direito de escolher quem eu deveria transar, quem eu deveria me relacionar, por isso, passei um bom tempo longe do cabra, para me ver livre de suas “ajudas”. Não me aborreci a ponto de explodir com ele, mas algum dia, num dia próximo, terei de explicitar toda a minha opinião em relação a isto. “Quero que você me deixe cuidar de minha própria vida amorosa, entendo sua boa intenção, mas não está lidando com nenhuma criança”, etc e tal. Imaginem um sujeito de organismo naturalmente besuntado de curry e pimenta discutindo com um “urso” incrementado com doce, com muito açúcar. Seria até injusto discutir com ele de forma selvagem, até porque, eu não poderia fazê-lo, pois gosto do cara. Entretanto, precisava conviver com o maluco sem que ele pudesse se meter muito na minha vida. Luís sempre foi na dele, me dá os melhores conselhos, porém, trata-se de uma pessoa insuportável para conviver, se você for uma pessoa com um pé na rebeldia, por menor que ela seja. Quanto a Marcelo, já imaginava que o olhudo gozava de uma amizade bastante estreita com o “urso”, a ponto de pensar que eles podiam estar tendo um caso, mas...putzgrila, o que há com meus pensamentos? Marcelo agia mais como um irmão mais novo do sujeito, um verdadeiro Office boy, que embora necessitava da gente para tornar sua vida menos falha precisava mais do Júlio (Luís não se incomodava, pelo contrário, achava que talvez eu poderia ficar mais próximo dele, não homossexualmente falando), e isso passou a me emputecer. Uma pitadinha de ciúme, mais uma pitada de “não posso sair dessa sem nada”, eu sou um maluco impossível. Decidi que, após o encontro no Toca do Peixão, seguirei meu caminho sozinho na noite. Digo, não tão sozinho assim. Formarei meu próprio grupo destituído de Luís e Júlio, pois estavam começando a me dar canseira, a me enjoar e gradativamente esta sensação viajava por minhas entranhas, pelo meu cérebro. Marcelo não me aborrecia tanto quanto eles, eu precisava tê-lo ao lado, mas certamente o jovem cagüetaria para Júlio e poria meus planos a perder. Deveria também me desvencilhar dele? Valeria a pena incluir o retardado em meus planos? A resposta poderia estar na minha frente naquele momento. “Retardado”. Seria o suficiente para deixá-lo sozinho (sozinho não, Júlio ficaria com ele de qualquer forma). Tratava-se de um pirralho, com uma vida inteira pela frente, para transar com as pessoas que quiser, ter seus amigos, seus jantares caros e suas bebedeiras, sem depender de mim. Deve me achar o pior do grupo, já que sempre o atormento com minhas alfinetadas. Por quê teria um apreço especial por mim? Bom, já sabia o que fazer após abocanhar a tal modelo russa.

Como tratava-se de um restaurante de baixa categoria, retirei o Modelo T do estacionamento eu mesmo (assim como coloquei) e os dois apressaram-se em adentrar ao veículo. Marcelo saiu do bistrô apenas para acenar, despedir-se. Não acenei e parti pensativo, imerso nas divagações sobre ele, Júlio, a magrela que eu iria encontrar e o desfecho daquela noite. Eu teria de estar “no ponto” para encontrar minha filhinha no dia seguinte, com o corpo na boa para aturar a poltrona de um ônibus – já que iria deixar meu carro na garagem, não queria arrebentá-lo – e chegar ileso ao local.

Todos nós (incluindo Marcelo) éramos semelhantes aos soldados dos filmes de guerra, com personalidades bastante distintas e manjadas, como se fosse regra geral ser desse jeito. Eu bancava o falador e metido a engraçadinho, Júlio era o apaziguador e paladino da justiça, o galã propriamente dito, o naturalmente bonzinho. Júlio bancava o mais inteligente da trupe, enquanto Marcelo era o frágil, quase um mascote, o moleque que tínhamos de proteger, manter junto. Obviamente não tínhamos líderes – muito menos um líder informal, fora o pirralho todos sabíamos nos garantir – , não precisávamos disso, éramos adultos e ter alguém para nos comandar seria ridículo. Mesmo tendo se divertido tanto com estes cabras, a melhor opção seria uma ruptura, eu precisava disto. Eles poderiam se virar sem mim com tranqüilidade. No momento, dirigindo meu “possante”, necessitava afastá-los de meu pensamento, e dedicá-los à Vlada Deslyakova, pois talvez ela poderia precisar – o que eu achava difícil, pois modelos quase sempre se julgam auto-suficientes e maiores que os outros, mesmo tendo uma existência de merda – , porém, se eu me arrepender de ser tão bonzinho, faz parte, já me ferrei tanto na vida que ser vítima de um esnobismo ou de algo pior não me mataria naquele restaurante. Sou imune a qualquer um destes gestos. Estava muito bem pensar sem perturbações quando Luís abriu o bico para mim, no banco de trás do carro.

- Sidney, você me parece bastante preocupado – alfinetou ele, sorrindo. - Arrependeu-se de falar alguma coisa na janta? Se disse que sim, entenderemos com perfeição, não seria a primeira vez, certo?
- Não me arrependo de nada, filhão – respondi a ele, seguro, sem tirar os olhos da rua. - Só me arrependo de ter jantado contigo, pois você está um pé no saco que, vou te contar. Não sei o que anda havendo com você, parece que passou uma temporada no sítio daquela igreja que você disse freqüentar. Aquela do tal ídolo de futebol que você tanto puxa saco. Me diga sobre as fiéis, elas são bonitinhas, pelo menos?
- Ora, isso foi há tempos, vai querer comparar com os acontecimentos atuais? - perguntou ele, meio trêmulo, e não era pelo leve sacolejar do veículo. - E não estamos falando de mim, mas sim de você. Parece que você aprendeu alguma coisa decente na conversa que tivemos, dá pra me dizer o que é, por favor?
- Ué, preciso responder a mesma coisa? Aprendi que não deverei jantar novamente com um pé no saco e paladino da justiça feito você – disparei, sibilando como uma serpente. Deu para perceber a face de Luís pelo retrovisor: geladinho, geladinho. - Nada pessoal, mas hoje não tem como você me fazer cair da cadeira, cara. Estou afinadíssimo nas respostas.
- Nossa – disse ele, esfregando a palma da mão direita nos olhos. Não lacrimejava. Júlio sentira uma pontada de desconforto, presenciando um assunto desagradável como aquele. - Tirou o dia para me acabar comigo, hoje.
- Sem drama, a gente sempre se alfinetou assim, não sei porque você está dando pra trás. Se não quiser conviver comigo dessa forma, tudo bem – disse a ele, extremamente seguro em minhas palavras, guiando o Modelo T. Já estávamos chegando ao tal bistrô e a feijoada já tratava de descer sem maiores problemas ao meu organismo.
- Parem com isso, parecem duas crianças – interviu Júlio. - Vocês estão na meia-idade, pararam pra perceber? Claro que não quero que sejam dois maracujás chatos pra caramba, mas do jeito que estão já é demais. Mudando de assunto, O que vocês acharam do novo álbum do Mika?
- Tá zoando, né? - pergunto ao gordo, explicitando espanto em minha face. - Eu não ouço este bichola, mas se você ouve Nine Inch Nails e estiver a fim de discutir sobre, não vejo o menor problema. Ah, também gosto do Arctic Monkeys...só do primeiro cd deles, pois foi o único que prestou. Depois eles mudaram o corte de cabelo, pareceram uns emos e com isso a qualidade musical destes macacos também diminuiu. Meio tosca esta mudança. Uma outra artista que quando mudou o visual teve sua qualidade musical diminuída foi a Shakira. Tá um tremendo bucetão, bundaça, como sempre, não embarangou, mas quando pintou o cabelo de louro e se dignou a cantar em inglês meu mundo caiu. O dela também. Hoje em dia é mais conhecida como uma BOA cantora que uma boa cantora. Mas, o que eu eu poderia esperar de latinas, puta que me pariu.
- Ela caiu bastante mesmo – concordou Júlio. Luís observava o chão do carro, com os braços cruzados e cabisbaixo. Apreciava a derrota na discussão que tivera comigo. Melhor permanecer assim. - Depois de “Donde están los ladrones”... veja, lá está a Toca do Peixão, elas já estão lá dentro.


Última edição por Admin em Seg Dez 06, 2010 5:10 pm, editado 2 vez(es)
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Mensagem  Admin Dom Ago 01, 2010 2:40 am

O badalado restaurante Toca do Peixão é recomendado especialmente para os descoladinhos a partir de 30 anos, ambiente tranqüilo, geralmente anda bem cheio, música ao vivo e todos parecem falar baixinho, como se estivessem em pleno culto, procurando um modo de tagarelar sem serem pegos pelo pastor. Iluminação fluorescente, paredes quadriculadas...os clientes podem aproveitar de uma providência lúdica do estabelecimento: há um mural de 2 metros de altura, disposto a ser desenhado e escrito pelos mesmos. Faz um bom tempo que eu gostaria de experimentar esta brincadeira, mas desejava que fosse acompanhado pelos queridos miguxinhos. Talvez fosse um gesto idiota, na frente de uma modelo internacional como Vlada, mas, quem sabe ela poderia gostar? Tinha ciência de que o Brasil era um país maluco - em comparação com boa parte das nações, que não gozam de uma cultura tão diversificada como aqui - e que talvez mesmo pessoas naturalmente travadonas como modelos poderiam entrar na dança. O ambiente bastante legal e diferente propiciaria uma boa experiência naquele encontro, eu já acreditava que poderia levar a menina para a cama, mas além disso, gostaria que ela tivesse uma boa estada na cidade do Rio de Janeiro. São poucos os que reclamam do teor quente e hospitaleiro da capital, pegaria mal se minha acompanhante achasse a coisa menos que "espetacular". Não poderia dizer que este era um trabalho hercúleo, do tipo que iria tirar leite de pedra, mas não me surpreenderia se ela se antipatizasse comigo tão rápido.

Júlio e Luís trataram de sair do Modelo T antes de eu entregá-lo ao manobrista, um moleque de mais ou menos 17 anos, cabelos castanho-claros, olhos negros e extremamente pálido e magro. Temi pela segurança de meu carro, pois um rapaz como aquele poderia ser tão inexperiente no ofício que iria fazer algum estrago (por menor que fosse) no veículo. Confiei, não tinha opções. Permaneci em pé, observando o pirralho em ação e ignorando os pedidos de Luís para que entrássemos, certamente as gurias já estariam esperando por nós lá dentro. Quando o manobrista descera para o estacionamento, me recompus e andei com eles até a entrada/saída do restaurante. Nem entramos e fomos quase atropelados pelo segurança (um armário embutido de queixo duplo), que carregava um velho, um mendigo. Este trajava calça e camisa vermelhas, além de usar uma bengala, que era nada mais que um cabo de vassouras - uma de suas extremidades portava um pano vermelho enrolado. Seu rosto fora severamente castigado pelo tempo, tão enrugado quanto uma carne de hambúrguer, além de barbas brancas e negras que faziam seus lábios sumir. Júlio e Luís esboçavam expressões assustadas, como se alguém estivesse apontando um trabuco para eles (que bichas), ao contrário de mim, bastante acostumado com a população de rua. Observamos quase toda a sequência, com o segurança carregando o sujeito até o lado direito da calçada e lançando-o ao chão. Neste momento, ouvimos sons de ossos se deslocando. Sentimos pena. Em seguida, o armário apanha a bengala caída do chão e joga com desprezo perto do mendigo. Retorna com tranquilidade ao interior do recinto. Além de mim, alguns passantes e frequentadores - que bebiam e comiam nas mesas situadas na varanda - observaram, alternando expressões entre o riso, desprezo, revolta, assombro. Até mesmo babacas como aqueles agiam como o brasileiro médio, que se revolta com alguma coisa, mas que não faz nada. Eu não poderia esperar nada dessa gente, portanto, resolvi fazer alguma coisa. Entramos, enquanto ouvíamos o miserável grunhir: "eu vou matar ele...eu vou matar ele".

Adentramos ao local, razoavelmente cheio, ainda dava para circularmos numa boa sem esbarrar tanto. Varri o local com os olhos, atento, enquanto Júlio conversava com o maître. Este último já estava a par - obviamente - da nossa vinda, o Júlio havia reservado as mesas em um local apreciável - próximo à janela, na área de não-fumantes. Ninguém de nossa gangue fuma - e livre de tantos esbarrões e inconveniências. "Podem me acompanhar, por favor", disse o maître, magrelo e meio aveadado. Fomos com ele. Luís sorria meio contido, parecia esperar por alguma coisa, Júlio mantinha o sorriso bonachão e simples, patentando a alcunha de "Sr. Tranquilo", dada a ele desde a adolescência. A galera posta no local era a que eu imaginava: mulheres que comentam como foi a último show do Júpiter Maçã e seu cabelo amarelo-ovo e os homens de Converse All Star e calça quadriculada comentando sobre como é bom dar a bunda ao som de Babyshambles e Yeah Yeah Yeahs. Geralmente estes putos têm o carisma de uma porta, além de serem assustadoramente chatos. Um pé aqui, outro pé na Inglaterra, um aqui e outro na Inglaterra, nem que seja mentalmente. Não, não tenho mágoa de ninguém, filhos.

Eu esperava encontrar pessoas adultas aqui, pelo menos isso. "Toca do Peixão", esse nome não combina com indies. Deixei minha birrinha de lado e finalmente avistei a mesa, coberta com um pano médio de coloração amarela, com 4 taças, 4 pratos e talheres, guardanapos e babadores, para os que não sabem comer como gente. Ergui meus enormes olhos castanho-escuros e vi as duas garotas. Meu coração passou a bater um pouquinho mais rápido. Sasha, de cotovelos à mesa, era uma morena-escura de conjunto preto (calça legging preta e blusa de manga curta da mesma cor, aparentando ser extremamente apertada, exceto quando fora aberta ao meio, para dar visão à camisa preta por baixo e o decote com seios médios), salto alto igualmente preto e cabelo bem curtinho. Brincos tipo pérola, provavelmente falsos. Seu batom não casava com o tom de sua pele, mas foda-se, seu sorriso amarelo era bastante notável e subjugava o erro. Vlada trajava uma camisa branca, bem simples - parecia pronta para virar um pano de chão - , tão simples que a guria tratou de quebrar essa chatice com um extenso colar negro de bijuteria, short de jeans bege até o joelho, sandálias de dedo customizadas e meias curtinhas de bailarina. Seus cabelos longos e louros eram presos por uma presilha com lacinho branco meio transparente, além de uma tiara dourada de três partes enfeitando sua cabeça. Seus olhos azuis pareciam ser castigados por olheiras, seu rosto pequeno e seu sorriso meio tímido emulava uma versão mais jovem e esquelética da Madonna. Dava para ver parte do sutiã branco, pois a abertura da camisa era grande. Como previ, seios pequenos...bom, não tão pequenos. Sua magreza extrema me faria passar vergonha em alguma ocasião, fato. Fiquei bastante curioso com o que ela pediria para comer (isso é, se comesse).

- Meninas, boa-noite, tudo bem com as senhoritas? - perguntou Júlio, abrindo a conversa, beijando o rosto das gurias. Sasha mostrava-se mais alegre, enquanto Vlada demonstrava um misto de constrangimento e a vontade de dar uma mijada. Aquilo já me incomodava. - Bom, estamos aqui com meus dois melhores amigos, amigões do peito mesmo, como disse a vocês - exagera ele, deixando-nos temporariamente desconcertados - Luís Esteves e Sidney Silvestre. Este último é uma criatura rebelde, cuidado com ele, vocês duas.
- Hahah, não precisava estragar a surpresa, ursão - disse a ele fazendo uma careta, jogando constrangimento na cara gorda dele. - Elas iriam saber, pô.
- Sidney Silvestre? - perguntou Sasha, com cotovelos firmes à mesa, entrelaçando os dedos - Juju me disse que você era indiano, de... Thiru.. Thiruva...
- Thiruvananthapuram, capital do estado de Kerala - corrigi ela, meio impaciente. - É difícil pronunciar mesmo, mas fazer o quê? E sou indiano mesmo, meu sotaque esquisitão já denuncia.
- Ah, é mesmo, huehe. Acho uma graça quando os gringos falam português com sotaque assim - disse ela, realmente maravilhada. Seus olhos diziam isso. Luís já se sentia excluído e claro, desconfortável com isso. - Muito bonitinho.
- E como o ursão disse, este é o Luizaço, um cara bastante legal e confiável - falei, empurrando-o para ela. - Tem uma cara de argentino misturado com sueco, ou seja, mais confiável ainda.
- Que bacana, temos uma trupe cosmopolita aqui! - disse ela, batendo forte a palma de suas mãos. Por uns segundos senti-me mal por constranger Luís, já que antes fui constrangido por Júlio, e detestei isso. - E na minha frente temos minha parceira para todas as horas, a princesa Vlada, olhem só.
- Oi, gente - disse a loura magricela, mostrando seus dentes pequenos e ostensivamente alvos, encolhida. - Tudo bem com vocês...?
- Está melhor agora, conversando com você - disparei de pronto, deixando sua pequena face rosácea. - Tá, isso qualquer tolo fala pela internerd, não ligue. Ei, estas cadeiras estão implorando para serem sentadas.
- Poxa, há tempos não apareço neste lugar - disse Luís, próximo à Sasha, iniciando o processo de "tentar deixar a guria impressionada" - Bons vinhos, boa comida... mas parecem que vocês não andam apreciando bem a... a comida nacional.
- Ah, amor - ao Sasha dizer "amor", pude perceber meu amigo louro tremer na base, como um pirralho - o que mais fazemos em nossa turnê é experimentar comidas típicas, e algumas vezes obrigatoriamente, já que nos envolvemos tanto com alguns povos que não poderíamos fazer desfeita com eles. Sabe como é, comprovar o respeito até nisso, sabe? Deixa eu contar uma coisa, querido: eu, Vlada e mais 3 de nossa equipe tiramos fotos junto aos canibais da Papua Nova Guiné e depois tivemos que participar de um banquetão promovido por eles. Nossa, choquei, foi uma experiência espetacular.
- Então, vocês comeram carne humana? - perguntei, interessado.
- Não, comemos um assado de porco, com cabeça e tudo - respondeu a morena magrela, com o dedinho em riste. - Só de pensar já sinto engulhos...
- Então, não eram canibais - falei, provocando risos no gordão. Luís novamente sentia-se deslocado - Sem contar que eles são raros naquele país, errei?
- Ah, é mesmo... - sussurrou ela, reconhecendo sua confusão. - Você já deu uma olhadinha na Papua Nova Guiné? Tem cara de quem come bastante...
- Com 78 quilinhos? Só para os padrões anoréxicos - disse a ela, esticando o suspensório. Percebi sua vontade de se vingar de mim. - Tô no ponto.
- Eu já tive pretensões de visitar a Papua Nova Guiné, mas esta história de canibalismo sempre me deu um medo danado - disse Luís, observado por todos nós. - Mesmo assim, soube que eles são um povo extremamente hospitaleiro, bem bacana. Mas claro, tem que dançar conforme a música deles, assim como em todo o país. Minha avó é alemã, de Baden-Württenberg e teve uns probleminhas antes de se adaptar ao Brasil. Pra começar, veio direto para o Rio de Janeiro, invés de seguir a maioria e descer para o Sul. A velha era fanática por praias e calor.
- Ah, Alemanha, eu lembro de ter feito um desfile maravilhoso em Berlim... - Sasha estava a pleno vapor, quando fora gentilmente interrompida pelo garçom, um jovem moreno escuro de cabelos negros e curtos. - Ah, antes que fale qualquer coisa, eu quero um sorvete diet de passas ao rum e suco de limão.
- Quero um estrogonofe de frango, feito daquele jeitinho especial - disse Júlio, dando impressão de que este "jeitinho especial" poderia ser tanto uma ejaculação dentro da refeição quanto uma mijada bem alaranjada. Obviamente repugnante.
- Quais as opções de frango? - perguntei, sentindo fome novamente. - Ah, tá aqui no cardápio, nem vi. Er...vão escolhendo, amigos. Luisão?
- Hum...quero uma sopa de lentilhas com erva daninha, com cochonilhas vivas, por favor - disse ele, com dedinho em riste.
- Vladinha? - perguntei, fitando-a. Certo que ela poderia detestar este diminutivo tão fora de hora, mas...
- Er...quero uma omelete de avestruz - disse ela, ainda encolhida.
- Eu também quero uma omelete de avestruz - falei ao garçom, que ao perceber minha jogada manjadíssima, esboçou um leve sorriso e anotou em seu bloquinho. Retirou-se, com cavalheirismo. Virei-me para a pálida, sorrindo. - Ouvi dizer que eles são especialistas em refeições feitas com ovos. Depois, quero que você evolua para "três ovos fritos com gema mole", certo? Com arroz e feijão, então, seria um "level" bastante elevado pra você.
- Huehehe - Vlada riu, e os demais também. - Calminha, uma coisa de cada vez.
- Seria um "avanção" para uma princesa como você - elogiei, tomando cuidado para não encher demais sua bola. - Você é acostumada a uma vodiquinha?
- Ah, mais ou menos, nunca fui muito de beber - respondeu ela, movendo mais os braços esquálidos. - Aqui no Brasil, vocês tomam muito destilados?
- Mais ou menos. Eu bebo umas e outras, mais para experimentar um gosto diferente que para curtir, os dois aqui, a mesma coisa. Minha especialidade é cerva, cerveja, o goró. Não o estilo "normal" que todos estão acostumados, o Pilsen. Gosto das cervejas artesanais, com sabores diferentes...minha língua precisa experimentar os mais diferentes sabores, haha.
- Falando nisso, não escolhemos nossas bebidas! Nossas bebidas! - exclamou Sasha, como se perdesse os documentos por aí. - Garçom!
- Relaxe, vamos escolher o melhor para beber (bom, pelo menos eu escolherei o melhor): água. Vai de água também, Sasha? - perguntou o urso balofão.
- Vou, só bebo água mesmo, mas agradecerei se tiver um limãozinho em cima - pontificou a gostosinha. - Ah, vou ter que encarar isso como prioridade.
- Sem problemas - disse Júlio, virando-se para Luís. – Gugu Liberato?
- Água tônica, faz tempo que não bebo - respondeu, abrindo um sorriso improvisado. - E vocês dois, pombos estrangeiros?
- Vlada? Vai de qual refrigerante? - perguntei a ela, sorrindo de forma lasciva.
- Sprite, com duas rodelinhas de limão - respondeu ela, sorrindo, já sacando que eu estava lhe pregando uma peça. Notou que eu queria que dissesse "Coca Cola". Júlio levantou-se rapidamente e dirigiu-se ao garçom. Vlada prosseguiu. - Costumo beber quase tudo com limão.
- É muito bom, e você tem cara de quem não pede ajuda ao açúcar nessas horas - disse, a alfinetando sabe-se lá porque.
- Hhehe, você é maldoso - respondeu ela, sorrindo. - Aqui vocês comem muito bem, como na Papua Nova Guiné.
- É mesmo. Desculpe perguntar, mas... vocês costumam comer razoavelmente bem em suas turnês? - perguntou Luís para Vlada, inesperadamente.
- Comemos bem, mas não tanto como vocês e quanto os canib..o pessoal da Nova Guiné - respondeu Sasha, tocando-lhe o ombro com muita afetação. - Comemos o suficiente para o dia inteiro, temos 3 refeições diárias e mais um lanchinho. Não tem nada melhor que comer algas laranjas no lanchinho.
- Nunca experimentei algas laranjas - continuou o louro, possivelmente fingindo interesse no assunto. - São japonesas, certo? Eles comem muitas algas.
- Quando eu morava aqui comprava na Lojinha Verde, sabe aquela lojinha de produtos naturais? Vlada sempre adorou, pois nos deixa mais dispostas. Nós até podemos jogar futebol sem morrer, o que é tremendamente impressionante!
- Eu nunca morri jogando bola - disse aos dois, com Vlada observando espantada. - E por enquanto não tenho partes regeneradas no corpo. Vlada?
- Cara, não sabe o quanto sofri batendo uma bolinha em Omsk - suspirou, olhando para o prato. - Em especial, quando tive de chutar umas 5 pedras que...imitavam bolas. Diziam para chutar e eu chutava, e quando acontecia isso, além de quebrar o pé, caía no chão e quebrava o ombro, machucava o rosto...
- Putzgrila - murmurou Luís, demonstrando seu desgosto em uma típica careta aristocrática. - Isso..faz muito tempo, não?
- No começo do ano visitei meus parentes e meus amigos me pediram para chutar uma bola. Digo, uma pedra disfarçada de bola. Estava lá no campo, ela era tão irresistível, parecia que... me pedia para chutá-la, entendem? Não pude me conter - relatou ela, provocando em mim um espanto massacrante, quase me fazendo cair da cadeira. Espanto por sua burrice descomunal. Ou era burra ou era ingênua de uma forma que a fazia peça raríssima neste mundo corrompido de bosta.
- Shiva... - disse a mim mesmo, arrastando a mão direita em minha testa. - E você os considera "amigos"? São totalmente o oposto, pelo menos uma vez parou para pensar nisso?
- Sim, eu deixei de falar com eles depois dessa - respondeu a magrinha, dando-me certo alívio. Ainda tinha salvação. - Contei pra papi e mami, eles romperam com estas pessoas de verdade. No fundo, me sinto mais leve por isso.
- E é para sentir mesmo, não? - indaguei a ela. - Vai me desculpar, mas... eu olho pra você e vejo que não há mais motivos para ficar sofrendo. Consigo imaginar você passando por esta situação...
- Eu aprendi que não se pode confiar em todo mundo, não posso mais cometer esse erro - murmurou ela, me olhando com firmeza.
- Eu...posso ver como está seu pé e seu ombro? - perguntei.

Claro que este pedido bateu no coração de Vlada como uma pedrada, notei que eu estava diante de uma pessoa reservada, que não gostava de se exibir, ou qualquer coisa próximo disto. Sem contar que estávamos em um restaurante (eu até poderia dizer “restaurante fino”, mas não era, aquele lugar estava forrado de gente que mal retirou as fraldas!), o que elevaria ainda mais o constrangimento. Como eu e os demais amigos tivemos nossa cota de vexame no dia, seria péssimo insistir em uma coisa como esta. “Dá o pezinho, dá”. Mas, eu realmente queria ver o pé dela, necessitava de algo que pudesse me excitar, me paudurecer e como já estava aflito em poder arrumar uma chance de tocá-la (tão aflito quanto um pirralho, que péssimo), utilizei o assunto que estava sendo tratado na pauta, no momento. Poderia achar meu pedido uma demonstração de grosseria ou até mesmo de violência em sua pessoa, mas eu não agüentava mais. Sabe-se lá porque eu não poderia mais agüentar. Mesmo aos 40 anos, sou um verdadeiro moleque.
- Aqui, em pleno restaurante, seria um tanto embaraçoso – respondeu ela, como se sussurrasse, tentando desviar seus olhos azuis-safira dos meus, mas não conseguia. Já tocava a ponta de seu pé delicadamente com os dedos. – O que vamos fazer após esta janta?
- Ora, poderemos ir ao parque de diversões, se você estiver disposta – respondi a ela, sorrindo. – Se não, poderemos deixar alguma coisa para amanhã, mas confesso que estou preocupado com o retorno de vocês ao hotel. Pretendem partir em que horas, mesmo?
- Vamos sair fora às 13:00, eu, Vlada, as demais modelos e nossa equipe marcamos um avião para as 14:00, logo, vamos ter de concentrar todo o nosso prazer agora à noite – respondeu Sasha, inclinando o corpo para Luís, que, impetuoso, a segurou na cintura. – Eu topo uma voltinha no parque. Vocês costumam utilizar aquele Tivoli Park, do Flamengo, né? A montanha russa de lá é muito foda! Eles ainda tem aquele brinquedão chamado KABUM? Queria curtir de novo, faz uns 5 anos que não dou uma passadinha ali. Luís, vamos dar uma voltinha lá hoje?
- É claro, seria uma ótima idéia – respondeu ele, de pronto, surpreso por ter sido chamado por ela. Com isso, já teria uma oportunidade perfeita para abocanhá-la, era isso que queria, talvez ela também quisesse, então ele já estava em boas mãos, com meio caminho andado. Não poderia rogar por ele em um momento tão seguro como aquele. Claro que poderia ser surpreendido, Sasha poderia figurar entre as mulheres que têm prazer em instigar o homem e dar um banho de água fria no momento mais importante (quase todas as mulheres são desse jeito), mas estou falando de um homem adulto e um tanto mais velho que eu. Era tão moralista, poderia sair-se bem em uma situação dessas. No momento, percebi que Vlada olhava para mim, mostrando tranqüilidade em sua expressão, boca fechadinha e encolhimento padrão do corpitcho.
- A noite é enorme, nem chegamos às 22:00 – disse Júlio, olhando seu relógio prateado. - Fiquem bastante tranqüilos, sabem que tenho contato com Mônica e sei que não estou lidando com uma chefe tirana. Podem se divertir à vontade, mas eu terei de puxar o carro – levantou-se preguiçoso. - Terei uma sessão de fotos com Marcelo Martoriano às 08:00, mas antes disso iremos tomar café juntos na Sweet Bakery.
- Ah, tô lembrada que você teria este compromisso! - exclamou Sasha, batendo as palmas das mãos novamente, além de inclinar o corpo para a frente. - Espero que você tenha um bom sonho, antes de partir te mandarei um email, vamos ver se dará para conversarmos no Champs Elisées ainda este mês. Tá me devendo um cappuccino e vou ficar cobrando. Nossa, sou bem chata, não?
- Não se preocupe, de um jeito ou de outro estarei em Paris mesmo, preciso dar uma voltinha lá com Marcelo e ainda bater um papo de negócios com a Zeta (uma das numerosas grifes de moda feminina) – explicou ele, antes de pedir a conta para o garçom, que aportou prontamente em sua frente. - Quero que vocês tenham uma excelente noite. Sidney, Luís, fiquem com Deus, hein? - ao dizer isso, despediu-se com um aceno. Retirou-se do estabelecimento mancando. Observei seus atos pela janela, aliás, não só eu, mas Vlada também. Júlio chamou um taxi e sumiu na noite enfumaçada do local. Senti-me mais leve, agora, restava Luís dar um jeito em Sasha, sumir junto com ela. Eu precisava de um momento a sós com a lourinha magricela e não tava confortável o suficiente para despejar todo o meu veneno na presença deles. Vlada levou sua pequena mão direita à bochecha, indicando estar acostumada com a conversa. A solução refletia nos outros dois, que olhavam para si completamente vidrados e sem pedir licença iniciaram uma conversa paralela, deixando eu e a rapariga de fora. Imaginava que demoraria mais um pouco para chegarmos a este nível, mas sorri por eles terem adiantado este trabalhinho por mim. Virei para a pálida mulher, sussurrando “deixa eu ver o pezinho, deixa”, como uma criança pedindo alguma coisa com delicadeza. Vlada fitou-me com normalidade, sem esboçar assombro ou repulsa. Sem mover o tronco e os membros superiores, mexeu a perna esquerda um pouquinho, levantou o pé direito e com o auxílio da sola e dos dedos do pé esquerdo, retirou a sandália de dedo do pé direito, mostrando a cicatriz extensa, semelhante a uma rachadura, de coloração vermelha. Em volta, um arroxeado bastante fraco, quase imperceptível. Alternou suas olhadelas no pé e em meus olhos, possivelmente querendo saber o que eu achava daquilo, vasculhando resquícios de repulsa, nojo ou espanto em minha expressão facial (e falhando miseravelmente). Lá estava ela, com o pezinho há centímetros do chão, a perna sustentada por outra. Não retirou a mão do rosto, para não parecer tão entretida no que estava fazendo. Luís e Sasha conversavam como se estivessem sozinhos na mesa. A comida veio, e mesmo assim não se desligavam. Sabe-se lá o que estavam conversando, foda-se eles.
- Posso tocar? - perguntei a ela, aos sussurros. - Posso dar uma verificada?
- Pode – respondeu a modelo, também aos sussurros. Tímida mesmo. Vlada levantou sua perna direita, para que eu pudesse pegá-la. Levantei-me alguns centímetros, para aproximar minha cadeira e feito isto, sentei-me e coloquei seu pequeno pé direito em minha coxa. Pude notar a russa ruborizar-se por isso. Qual é, estou com uma virgem à minha frente? Se estava daquela forma por conta de um gesto tão bobo como aquele, poderia esperá-la ter um infarto ao passar por situações mais picantes.
- Pode ficar calma, querida – disse a ela, sorrindo com simplicidade. Balançou a cabeça, em sinal de aprovação. Estalei os dedos das duas mãos e comecei uma pequena massagem em seu pé, que esbanjava macieza. Era até mais pálido que o resto do corpo da garota, parecia não pegar sol há muitos anos. Bom, se o pé era tão alvo daquela forma, imagine as partes íntimas... tudo isso me dava mais tesão e vontade de tê-la naquela noite. Seria a sua noite, mais do que a minha noite, pois quem carregaria a maior carga de prazer seria ela, não eu. Já estava convencido disto, minha proposta era que ela gozasse de um pedacinho de felicidade e prazer antes de prosseguir com seus desfiles. Luís e Sasha continuavam com a conversa, deixando-nos oficialmente fora de seus babados. Passei com minhas mãos em seu pé, acarinhado tudo, os nós de seus dedos estavam à minha mercê, as unhas bem cortadas, brinquei com sua sola, desferindo-lhe pequenas cócegas (que ela sentiu, abafando o sorriso desesperadamente), alisei bastante, deixando-a com os pêlos eriçados. Estava se excitando, balbuciando palavras inaudíveis para qualquer pessoa, até mesmo para mim, mas pude ler seus lábios sem o menor problema. “Não faz isso... não faz isso”, murmurava, enquanto era solenemente ignorada. Aproximei ainda mais minha cadeira para perto de Vlada, embebida em um misto de timidez e prazer. Estávamos tão perto que sua esquelética perna direita dobrou por alguns centímetros. Ainda não retirara a mão de sua face, queria retirar, para impedir minhas massagens, mas estava gostando, por isso não interrompia. Bom, suas pernas não eram tão esqueléticas assim, a magreza manifestava-se forte em seus braços e pescoço, mas isso tudo não era problema para mim, senão não iniciaria nada.
- Não exagera... - sussurrou ela, pasma com o que estava vendo. Abaixei-me e após uma sessão rápida de massagens, passei a beijar seu pezinho. Sustentado por minha forte mão esquerda, enchi-o de ósculos, dos beijinhos aos beijos demorados, culminando em descarados chupões, minha boca trabalhava duro em seus pequenos dedos, proporcionando certo prazer à modelo, que contorcia as pernas e mordia os lábios. Coloquei a mão direita para trabalhar também e comecei a acariciar seu tornozelo e parte de sua panturrilha direita, não deixando de beijar seu pé. Ouvi uns grunhidos amolecendo, mudando para leves gemidos, Luís e Sasha só conversavam, nem comiam, então tratei de continuar. Até que Sasha começou a nos observar com o canto do olho enquanto Luís falava com ela. “O que vocês dois estão fazendo?”, bradou, chamando a atenção dos demais. Acabou que me viu acariciando o pé de Vlada.
- Tô dando um trato no pé dela, não faça escândalo, é só uma massagem boba – respondi com simplicidade. Eu estava com a mão direita posta no pé da magrela, como se estivesse realmente fazendo uma massagem comum. - Continue papeando.
- Ah, é que eu e Luís estávamos realmente pensando em ir ao parque, como ele disse que lá só fecha às 11 da noite, ainda dá tempo – explicou ela, gesticulando em demasia. - Claro que vocês irão com a gente, não é? - perguntou, certa de que iríamos responder que sim.
- Bom, eu dependo da decisão da Vladinha. Se ela quiser... - disse à Sasha e Luís. Observamos a pálida, como se tivesse o destino do mundo em suas mãos.
- Eu não irei – disse ela, categórica. De soslaio, pude perceber a cara de frustração de Sasha e a alegria contida de Luís, que precisava só disto para poder ficar sozinho com a morena. Mas, tinha uma coisa, Sasha também poderia recusar e se mandar para o hotel com Vlada, logo, nós dois terminaríamos a noite só na vontade. Isto me deixou nervoso. - Quero dar mais uma olhada na cidade, mas não pretendo ir ao parque... Sidney... se importa de dar uma volta comigo? - perguntou a mim, olhando fundo em meus olhos. O alívio baixou como uma cachoeira em minha cabeça. “Claro que sim”, respondi, evitando a empolgação juvenil. Deu para perceber que o mundo de Sasha caiu. Se fodeu, haha.
- Não precisa se entristecer, vamos dar uma volta no parque à sós, não precisa preocupar-se com nada, ou vai me dizer que você só costuma sair com Vlada? - perguntou Luís, cavando a possibilidade de terminar a noite com a morena.
- É isso mesmo – respondeu Sasha – Porém, faz um bom tempo que não saímos separadas, certo? Tem certeza de que ficará bem com um desconhecido como ele? - perguntou a ela. - Ainda pode mudar de idéia.
- Ouviu o que Luís disse? Não precisa se preocupar, todos aqui somos adultos – respondeu Vlada, me fazendo sorrir. - Luís está doido para sair com você a sós, dê uma chance a ele. Parece ser um sujeito bastante responsável, vocês estão se dando tão bem...
- Ok, está certa, vou dar uma visitada no parque com meu mais novo amigo, mas espero te encontrar no hotel hoje, digo, se for dormir fora me dá uma ligada, tá? - perguntou Sasha, começando a comer.
- Sem problemas – respondeu a alva, recolocando o pé direito em seu chinelinho de dedo. Me olhou com um sorriso sinceramente feliz, enquanto retribuí da mesma forma. Interessou-se por mim de verdade, ou pelo menos o que aparentava. Ótimo, era tudo o que eu queria. Certo que uma guria tão bonita e gostosinha como ela não iria se arrepender da decisão.
- Eu... gostaria de conhecer um local mais tranqüilo, sou avessa à badalações, não suporto boates e locais semelhantes – prosseguiu ela, dirigindo-se diretamente a mim. Já ditava o que iríamos fazer no resto daquela noite e enquanto conversava comigo, fazia cara de compreendido, alternando entre a expressão séria e a alegre, por estar mais que convencido de que iria tê-la, ela iria me ter, entre outras coisinhas mais. Estava mais que disposta a tornar sua noite inesquecível, tanto que escolheu a pessoa certa para proporcionar diversão a ela. Uma pessoa mais refinada e decente que a maioria destes macacos que pululam por esta cidade linda, mas ao mesmo tempo nojenta. Luís e Sasha voltaram a conversar e eu, repousando as mãos na altura de minhas partes íntimas, era todo ouvidos à querida magrinha, continuando... - Me sinto meio tosca em ficar colocando as coisas nos devidos detalhes, acredito que deveríamos deixar as coisas rolar com naturalidade. Comigo sempre foi assim.
- Não se preocupe com isto, pode explicar o quanto quiser, gosto de conhecer as pessoas dessa forma também – disse a ela, descontraído. Me surpreendi por estar diante de uma pessoa outrora silenciosa e que agora desandou a tagarelar. Talvez por estar familiarizando-se comigo, o que é bom. - Vamos, coma mais um pouquinho, posso sentir seu corpo pedindo mais comida. Posso até ver seu coraçãozinho pulsando, vermelho e bastante aflito – disse, apontando para o centro de seus seios pequenos. Ela riu, mas eu sentia de verdade.
- Não é possível que eu esteja ficando transparente de não comer – sussurrou para mim, tocando com leveza o centro de seus seios, uns centímetros acima, mais ou menos na altura de onde apontei. Suas unhas foram enfeitadas por esmaltes azul-bebê, bastante exóticos para um lugar como aquele, mas mesmo assim casavam com perfeição com o resto de sua roupa e a pigmentação mui clara de sua pele.
- Você não pode lutar contra as necessidades de seu corpicho – disse a ela, enquanto comia. - Digamos que fôssemos a uma boate, você não conseguiria dançar por muito tempo, eu teria de te carregar para fora dali em dois tempos. Ao mesmo tempo em que seu corpo combinaria com perfeição em uma cama com lençóis brancos e transparentes, rosas azuis, travesseiros de qualidade, canto dos passarinhos e um criado mudo repleto de frutas. Já experimentou abacaxi?
- Não... é aquela fruta espinhosa? - perguntou, maravilhada com o que eu tinha acabado de dizer. - Como vocês cortam aquilo?
- Com qualquer objeto cortante. Conheço uma quitandinha, um local que vende frutas, é bem próximo daqui – contei a ela, preparando-me para levantar da cadeira. - Você vem comigo, anjo?
- Tá bom... tudo bem – respondeu, com certa relutância, levantando-se devagar. Chamei o garçom (que apareceu rápido), peguei minha tão querida carteira de couro de crocodilo e perguntei quanto eu e Vlada devíamos à casa. “Não se preocupa, pagarei nossa comida”, falei para ela, que mantinha-se trêmula, sustentando a mão esquerda na borda da mesa, talvez demonstrando insegurança. Em um momento como aquele não poderia dar para trás (mesmo se desse, não a trataria com violência, jamais, mas insistiria). Eu poderia suportar até o fim aquela carinha aflita, como se me pedisse alguma coisa, mas sem problemas, atenderia os desejos que ela quisesse. Pagamos, Vlada pegou sua bolsa branca, pôs ao ombro e tratou de me acompanhar. Luís e Sasha ainda conversavam, completamente distraídos, entrelaçados, mui envolvidos. Não estava nem aí para estes putos, só queria sair dali com minha pequena, e fizemos isto: ofereci minha mão à ela, que segurou com certa firmeza, dando a impressão de que morreria se estivesse andando sozinha por aí, não poderia largá-la. Engolia seco, como se preparasse seu corpo e mente para encarar o mundo. Disse a mim que era avessa à badalações, que bom. Eu também não teria muito saco para sacudir o esqueleto naquela noite, estava bastante relaxado, ela também. Calmamente, nos retiramos do recinto.

Fomos fustigados pela noite fria do centro do Rio de Janeiro. Dei uma olhadela no painel eletrônico, que marcava 12 graus. Ela estava acostumada com o frio – afinal, nasceu na Sibéria – então, eu quem de fato sofria. Vento frio do caralho, sensação térmica fazendo minhas unhas ficarem roxas, e minhas pernas sofriam mais que qualquer parte do meu corpo. O vento me fazia vibrar como vara de bambu e Vlada percebia isto, rindo baixinho e olhando para os lados, para que eu não notasse sua alegria. Ri de volta, pois achava graça em sua timidez. Por conta do frio, apertou ainda mais sua pequena mão à minha, além de encostar seu antebraço no meu. Olhou para mim ao fazer isto, sorrindo. Me excitei pouco, mas me senti feliz com aquilo. Finalmente chegamos à tal quitanda, capitaneada por dois malucos bem conhecidos, dois músicos, meus amigos: Benjamin Silverwasser e Andrew GonWyngarden. Dois jovens que fazem sucesso com uma banda de rock psicodélico montada por eles, ganharam rios de dinheiro, mas que, sabe-se lá porque, perdem tempo vendendo frutas. Pior, numa quitanda feita à mão, ao estilo dos feirantes tradicionais. Sinto inveja da simplicidade destes cabras.

- Boa-noite, rapazes – disse a eles, com Vlada recostada ao meu corpo. - Pensem rápido: quero um abacaxi, ou pode ser um ananás. Não, quero dois, por gentileza, fazendo favor.
- Já tá saindo – disse Benjamin, pegando as frutas com uma de suas mãos grossas. Benjamin tinha olhos grandes e castanho-escuros, cabelos encaracolados negros e barba por fazer. Era considerado o número 2 da banda, pelos fãs (mulheres e viados em sua maioria, mas eu também curtia o som dos caras). Tratou de puxar assunto – Faz um bom tempo que você não aparece aqui.
- E eu imaginava que estivessem gozando de uma turnê, passando por Mumbai, Dubai, Cidade do Cabo, Colombo... - disse.
- Semana que vem já iniciaremos um show por Nova York – disse Andrew, espremendo um limão na boca. Olhos claros, cabelos castanho-escuros e desgrenhados. É considerado um dos “musos” da galera teen daquele ano, capa de revistas direcionadas a este público, se diverte em entrevistas, mas costuma maltratar suas fãs com desaforos do tipo “não fiquem me torrando a porra do saco, se eu fosse feio vocês não estariam dispostas a me chupar!”, assim, em alto e bom som. Seu melhor amigo e parceiro de banda sempre limitava-se a permanecer longe quando presenciava estes surtos. O melhor amigo era dotado de uma calma espetacular, o tipo que raramente se emputecia, e quando acontecia falava na boa, não assemelhando-se a um sujeito realmente puto, possesso. Nutria uma pitada de inveja por ele ter uma personalidade tão nirvânica, por outro lado não poderia me preocupar com o poder de peçonha dos caras em relação à cantadas, eles não iriam cantar minha modelo – por respeito e por particularmente detestarem gente deste naipe, e eles não estavam sozinhos nessa. Numa noite altamente friorenta como aquela eu não teria uma grama de paciência para prosseguir em um papo com os caras, embora mereciam – há tempos não nos víamos, nada melhor que contar as novidades, os babadinhos de meses a fio, sem contar que o jeito naturalmente apaziguador de Benjamin me instigava a falar mais ainda – , mas eu poderia deixar de lado meu objetivo inicial para com a modelo e prosseguir em uma conversa com eles? Enquanto pensava sobre isto e observava as frutas, meu corpo bambeava por conta do frio. Vocês podem pensar que sou uma pessoa frouxa demais para com o frio, mas é mesmo, assumo que sou um frouxo. Nasci em uma área tropical da Índia, me acostumei com o calor e este mesmo fator foi necessário para minha mudança para a América do Sul, para o Brasil. Bão, apesar do calor acachapante, aqui também costuma nevar. Não fiquei tanto tempo na Inglaterra. Minha filha atura um país como aquele com a mão nas costas, já que nasceu ali e adaptou-se ali, mesmo que por pouco tempo. Ainda lembro de suas reclamações sobre o calor escaldante de verão do Rio de Janeiro. Ah, esqueci de dizer, ela também era fã destes dois músicos, mas não sabe que tenho uma amizade estreita com os cabras. Andrew percebeu minha concentração para o nada: eu simplesmente focava meus enormes olhos em um lote de kiwis, mas pensando em minha filha e tudo mais. De vez em quando acontece isso, mas creio não ser o único a ficar estático, envolvido nos pensamentos e permanecendo estático. - Também quer kiwis? - perguntou ele. Seus lábios rosáceos brilhavam em razão do frio intenso. - Está deixando sua companheira assustada com estes olhões arregalados nos meus kiwis, hahaha.
- Ah, desculpa, estava pensando em mil coisas – disse a ele, me recompondo. Vlada mantinha-se com o braço recostado ao meu, acrescentando o calor de seu ombro. Sabia que eu tremia e resolveu me dar uma forcinha no aquecimento. Me virei para ela. - Você também quer kiwis, Vladinha?
- Sim, estas frutas têm um visual interessante... - disse ela, visivelmente curiosa. Iria tocar em um dos kiwis, mas logo recolheu sua mãozinha, pondo-a no bolso. - Eles têm um visual bastante estranho. Se parecem com...se parecem com as bolas do saco de alguém.
- Sério que você pensa isso? - perguntei ela, após uma sonora gargalhada. Acho que quem tava no mirante do Corcovado ouvira. Benjamin e Andrew também riram, mas em menor intensidade. - Eles são peludinhos e marrons por fora, mas verdes por dentro, sem contar que se pode comer as sementes – peguei um deles, para mostrá-la. Resolveu tocar, com certa relutância (na verdade, embebida em uma inocência que irritava, mas duvido que no ato sexual seja tão inocente assim), e fazendo, apertou tanto que fez a fruta explodir. Andrew voltou a rir, enquanto tinha aberto em suas duas mãos pálidas um saco plástico, para colocar as frutas. Benjamin já ensacara os abacaxis e já tinha em mente quanto iria cobrar.
- Foi mal, eu pago por isso – disse ela, retirando um punhado de reais da carteira, mas a impedi, dizendo que poderia pagar em seu lugar. Andrew disse, aos risos: “não precisa, fica por conta da casa, afinal, você não comeu”. Paguei a Benjamin e Andrew, que me deu um lote de kiwis. Vlada todo o tempo mantinha-se colada em mim, como uma criança ao pai, e me senti contente por aquela dependência.
- Veja se compre o nosso segundo cd, hein? - perguntou Andrew, saído de traz da quitanda. - Você provavelmente deve saber, mas estamos com uma sonoridade um tanto diferente do primeiro, deu uma ouvida nas duas de nossas faixas no nosso site?
- Ouvi sim – respondi a ele, firme. Vlada segurava os três sacos plásticos, domava-os com relativa dificuldade, tanto que fui ajudá-la, mas sem tirar o foco dos rapazes. - “Ray Delirium” e “Brian Emo”, certo? Gostei dessas músicas, mas aposto que são as melhores do CD mesmo, hahaha!
- Ih,gosto não se discute – disse Benjamin, de braços cruzados. Andrew estava ao seu lado, tomando um gole de limonada sem açúcar. Me ofereceu e eu aceitei, embora estivesse cheio até o cu de comes e bebes. Acho que depois dessa iria dormir duro. - Mas, se você gostou das músicas já é meio caminho andado. Semana que vem vamos liberar mais uma, depois lançaremos oficialmente o disco, já tamos com a agenda cheia e shows marcados, inclusive pro “Domingão do Merdão”. Cê sabe, do Faust, aquele merdão.
- Sério, isso? - perguntei ele, envolvendo meu braço direito na cintura de Vlada. - Bom, como diz aquele ditado, “primeiro, temos de passar pelo inferno antes do paraíso”, portanto, compreendo com perfeição que vocês dois tenham de aturar estes babacas. Faz parte.
- Exatamente, e já estamos preparados emocionalmente para lidar com eles. Aquele apresentador que não deixa ninguém falar, aquelas dançarinas sem-graça, o animador de platéia vestido de Superman, o público imbecil...tudo isso faz parte do show – dissertou Benjamin, tomando um gole da limonada. - Bom, não queremos tomar o tempo de vocês, acredito que terão uma noite quente, hahaha.
- Nossa, descobriu o Brasil, barbudin – disparei para ele, sorrindo lascivamente. Vlada sorriu também e seguindo meus passos cirurgicamente preparava-se para sair fora do recinto. - Estamos indo, tenham uma boa noite. Esse agasalho aí suporta esse frio todo?
- Você ainda continua com essa frescurite aguda por conta do frio? - perguntou Andrew, que como seu amigo e parceiro, acenavam, despedindo-se de nós. Acenei de volta, Vlada apenas via e sorria. Ao virarmos a esquina, retornaram aos seus afazeres.

Não estávamos muito longe de casa, mas não seria imbecil o suficiente para andar até o topo do bairro onde vivia numa noite fria e cortante como aquela. Vlada não tremia como eu, mas seus (pouquíssimos) pêlos de sua mão eriçavam-se, pedindo calor e conforto. No momento Vlada usava um casaco de pele falsa de coloração tão negra que parecia brilhar na luz dos faróis dos automóveis. Sua pele fria acostumara-se com a minha, como eu previa, estávamos mimetizados, caminhando pela rua com pequena aflição, procurando um bonde para tomar ou um táxi. Ela me olhava, como se quisesse me perguntar qual seria o próximo passo, meus olhares alternavam-se entre a rua, os olhos e os pequenos lábios da menina. Eu queria beijá-la naquele momento, mas tinha ciência de que não iria parar, então, o melhor seria continuar procurando um local confortável e quente o suficiente. Bom, mesmo se não tivesse motivos iria procurar de qualquer jeito, né? Preparava-me para parar um bonde, mas ela me disse: “Não quero ir para sua casa agora, vamos para um hotel. Não o meu, é óbvio”. Virei-me um tanto surpreso com sua decisão, mas compreendi logo. “Pode ser qualquer tipo de hotel, não escolha o mais caro, não valho isso tudo”, disse ela, com o seu humor auto-derrisório. Está certo. Eu conhecia um hotel discreto, bom e limpo o suficiente para passarmos uma noite gloriosa.

Então, 10 minutos depois chegamos à fachada de um hotel amarelo, um apartamento de 10 andares situado próximo à Praça da Bandeira, início da Zona Norte carioca. Costumava dar as caras por ali, mas não adentrava tanto ao Rio, não com tanto afinco. Estávamos presos um no outro, o frio tratou de me blizzerar, mesmo quando andávamos rápido e nos sacudíamos, ações como essa só faziam piorar a situação. E o vento, então...massacrante, e ventava com uma freqüência considerável, parecia que o mundo iria desabar ou coisa parecida, mas ao invés disso fomos agraciados com flocos de neve. É, umas pitadas de neve caíam sem cerimônia na cidade, só faziam aumentar o frio e a aflição de ter que arrumar um local decente para descansar a carcaça – e, segundo o meu objetivo, fazer sexo – e tomar algumas brejas depois. Bom, nós já estávamos dispostos a entrar no hotel, e entramos. Ainda passavam bondes, marcava quase 23:40 quando paramos na recepção. Toquei um pequeno sino preso ao balcão de mármore. Vlada acompanhou com os olhos a vitrine com trocentos molhos de chaves, parecia escolher o apartamento onde iríamos passar a noite, mas não falava nada, sequer sussurrava. Melhor assim, eu poderia resolver todo o imbróglio. Um homem bem arrumado, baixinho, certamente na casa dos sessenta, careca e bigodudo saiu de um compartimento, um vão em um quadrado saído embaixo do chão e, retirando a (pouca) poeira do paletó azul-bebê, pousou as mãos mui envelhecidas no balcão, com violência. O maluco parecia saído de uma história em quadrinhos. Percebi o sorrisinho de Vlada ao topar com um cara bisonho como ele.

- Boa noite. E então, o que vai ser? - perguntou ele, parecendo estar apressado. Sabe-se lá porque, talvez estava dando um trato em seu animal de estimação e mesmo trabalhando como recepcionista não queria ser incomodado. - Vocês se vestem muito bem, sabiam?
- Valeu, nós estamos querendo uma suíte, pode ser a mais cara, ela está disponível? - perguntei a ele, desembuchando tudo logo.
- Bom, desculpe, mas ja está ocupada – disse ele, desviando seu olhar no meu. Verificou a seleção, prosseguindo. - Aliás, estamos cheios a maior parte dos apartamentos, mas estou vendo aqui se tem um...ah, tem dois. Nem poderá escolher, pois são do mesmo “level”.
- Do mesmo level, como? - perguntei, sério.
- Cama de casal, banheiro de água quente com bidê e banheira, televisão 40 polegadas, frigobar...só. Mas, é muita coisa, certo? - perguntou ele, com a maior expressão irônica que eu já vi.
- É muito pouco, veja se tem um item aí que você tenha pulado – ordenei, sério, pois sabia que, com sua cara e características de idiota não diria tudo que estávamos querendo ouvir. E não é que ele tinha pulado um item mesmo?
- AH! - bradou, como uma bicha. - Acabamos de instalar internerd grátis para apartamentos desta classe. Gostam de computadores, né?
- Não, detestamos – respondi. Pus a mão em minha carteira e perguntei quanto o pernoite custava.
- 50 reais, de agora até o meio-dia – respondeu, sendo pago com uma nota de 50 no ato. Sorriu, mas falou mais ainda. - Café da manhã às 7, servido no quarto. Qualquer coisa, liguem para o telefone sem fio que está em cima do criado mudo.

Perfeito. Costumava dormir naquele hotel, mas sinceramente, não me lembrava deste recepcionista de terno esquisito pra cacete. Bom, o importante é que ele não foi tão tosco o suficiente para assustar minha companhia. Vlada encarou o acontecimento com naturalidade, até mais que eu, o que é surpreendente. Sorriu e riu baixinho, o que me fez aumentar ainda mais as pretensões para com ela. Enquanto subíamos a escada – a pedido dela, não suportava elevador e só cederia se o prédio fosse enorme – Vlada me observava aos sorrisos, mas do jeito Vlada de sorrir, contido, quase imperceptível. Seus olhos azuis, seu cabelo louro e longo, seu tom de pele e as feições também lembravam-me por demais a atriz Dakota Fanning, mesmo com a adição de um sotaque carregadaço, que rivalizava com o meu em nível de tosqueira. Eu já tinha me surpreendido pela primeira vez, lá no Toca do Peixão, quando nos falamos. Geralmente estas modelos internacionais mal sabem português, arriscando-se em 3 ou 4 palavrinhas básicas, são dotadas de uma burrice esmagadora e se vendem fácil, fácil (já disse coisa parecida, não?). Vlada Deslyakova parecia ser uma menina direita, mas mesmo que cedesse a vagina para mim naquela noite esta opinião não mudaria. Era cristalino que também estava atraída por mim e eu reconheço uma safada aproveitadora de longe, mas até agora não figurava neste grupelho. Melhor que as coisas continuassem assim. Na chave figurava o número 503, então coloquei na fechadura e abri.

Nos deparamos com uma sala de estar pequena o suficiente para nos apertarmos e nos contorcermos. Mentira, dava para andar numa boa e esticar. Tapetes persas falsos, janela enorme e persianas um tanto desgastadas. A televisão estava próxima à parede, além do criado mudo com o telefone na outra extremidade. Pequenas gavetas, decoração quase inexistente, paredes pintadas de salmão. Vlada permitiu-se ficar estática enquanto eu dava um giro pelo local. Vi o banheiro e estava tudo Ok, totalmente seco. O quarto – para minha decepção – era beeeem pequeno, apesar da cama de casal, que estava espremida na parede, com a janela sem persianas – um lençol fora posto – ao lado. Acreditava que a modelo se acostumaria com este aperto, visto suas turnês pelo mundo e locais onde ficaria algumas horas para dormir e comer (bem pouco). Eu também sou adaptável a qualquer lugar, então, sem problemas. Verifiquei o lençol. Se estivesse com uma gota que seja de esperma sairíamos dali de imediato, mas não tinha. O chão, bem limpo. O computador estava próximo à cama, obviamente desligado, sustentado por uma mesinha com rodinhas. Verificava o quarto como uma maldita faxineira, até ouvir minha linda. - Está tudo bem aí? - perguntou, na porta do quarto. - Achei esse lugar legal.

- Também acho, mas imaginava que você merecia coisa melhor – disse a ela, levantando-me. Apontei. - Você...está com olheiras.
- Sem problemas – disse ela, tocando embaixo de seus olhos. - Nossa, como está frio aqui, também – suspirou, friccionando os braços com suas mãos esqueléticas. Logo, limpei minhas mãos grossas com rapidez e me aproximei da guria, estando há centímetros de seu corpo mirrado. Botei minhas mãos para trabalhar e a abracei, deixando-a bastante confortável, meu bafo invadindo seu rosto e a pouca quentura de nossos corpos passaram a se unir. Aquela boquinha espetacular... o que eu estava esperando, deveria beijá-la de uma vez! Ainda mais porque pedia isso. Ao abrir a boca, Vlada disse: - Ano que vem eu paro de desfilar.
- Mesmo? - perguntei, incrédulo. - É seu ganha pão, embora seja uma profissão degradante e imbecil. O que pretende fazer? Voltar para Omsk?
- Quero uma mudança de ares, vou ficar aqui no Rio ou em São Paulo... - sussurrou, me olhando nos olhos. - Se você estiver sozinho até lá...
- Ora, considero uma decisão importante demais para você decidir assim, no ímpeto, mas também não tô dizendo para você continuar a ser modelo, deve ter alguma coisa que você possa fazer, todo mundo tem algum talento, um resquício que seja, mesmo sendo tolas, as pessoas têm alguma habilidade especial – expliquei a ela, ainda bem abraçados. - O que faria se largasse tudo e voltasse a Omsk? Seria ensacadora no supermercado? Ambulante? Panfletista? - perguntei, debochado. - Nesse caso, seria melhor ficar comigo. Teria uma vida melhor.
- Penso nisso há 6 meses, bem antes de vir para o Brasil – disse ela. - Ser modelo me dá dinheiro, mas estou me sentindo desconfortável com isso tudo.
- Então, fique comigo – disse a ela, inclinando o meu corpo na guria. Beijei sua boca, com graciosidade. Vlada prosseguia revezando entre a seriedade e a vontade de se envolver. Queria se envolver, mas foi tola o bastante para deixar que seus problemas pessoais dominassem sua mente. Logo, era meu trabalho envolvê-la na paixão. - Nós podemos ficar juntos, sem problemas.

Não falou nada. Retirei uma de minhas mãos de suas costas e passei a beijá-la ainda mais, devorando seus lábios com minha sedução. Com a mão esquerda (a retirada das suas costas) toquei seu rosto e logo depois, fiz descer no lado direito de seu peito. Vlada já começava a ofegar, começando a se envolver na coisa. Minha mão direita desceu para suas nádegas, bem pequenas, mas polpudas. Acariciei enquanto ainda tomava sua boquinha para mim. Vlada passou a tomar parte retirando sua tiara tripla, deixando-a na bolsa. Largou a bolsa no chão. Parei de beijá-la, peguei-a no colo com extrema facilidade e a coloquei na cama. Parecia uma boneca. Pude ver com atenção a grossura desprezível de suas coxas e pernas. Muito magras, parece que eu poderia quebrá-las na hora do sexo, e quase ri ao pensar nisto. Seus braços, como percebi antes, assemelhavam-se aos de um esqueleto. Se usasse um biquíni estilo fio dental eu sentiria vergonha alheia ao presenciar os contornos de sua vagina e os ossos de sua cintura moverem-se por aí. Por isso, se ficasse comigo de fato, teria de engordar, afinal, não estaria no degradante trabalho de modelo, teria uma vida normal, de mulher normal para tocar.

Eu já estava em cima dela, mas sabia que Vlada não poderia agüentar e iria reclamar do meu peso. Trocamos e ela passou a dar iniciativa, me beijando, caçando minha língua com a sua, desvencilhando-se da timidez que mostrava ter outrora, e o que eu fazia era tentar afundar minha mão direita em sua vagina. Com isto, Vlada emitia gemidos graciosos e sinceros, dava uns poucos (mas intensos) agudos, enquanto me abraçava com suas duas varetas que ela chamava de braços. Eu pretendia estudá-la, claro, como faço com todas as mulheres. Prossegui com meus dedos mexendo dentro dela e quando gemia, olhava firme nos meus olhos. Gemia e mordia os lábios, me excitando cada vez mais. Tirou a camisa e finalmente pude ver seus seios, embora não tivesse surpresa alguma por serem tão pequenos que quase me davam pena. Uma guria como esta tem tudo para ganhar peso e seria ainda mais deliciosa com isto. Retirei meus dedos quando percebi que Vlada queria tirar minha calça. Me beijava e tirava calça, eu tirava a parte de cima. Mal saiu a calça quando a vi soltar uma interjeição tosca quando viu meu pênis sair totalmente ereto da cueca. Possivelmente pensava: “Como é que é? Um negócio enorme como esse vai entrar dentro de mim?”. Eu poderia rir, mas temia que a magrela declinasse e desistisse. Mas, não desistiu. Segundos depois da interjeição, tocou meu pênis e passou a masturbá-lo. Aproximou seu rosto nele e acabei impedindo que fosse chupá-lo – embora fosse maravilhoso que o fizesse. “Eu ainda quero te beijar”, disse a ela, que não tirou a mão dele e prosseguiu com a masturbação, encostando o rosto no meu, e voltamos a nos beijar. Queria sentar em cima, mas eu estava com tanta vontade de metê-la por si próprio que pedi para que deitasse, com a promessa de que não forçaria tanto. Cedeu. Mamei seus seios por alguns poucos minutos enquanto estimulava sua vagina e quando me levantei para pôr a camisinha Vlada se masturbou, contorcendo suas pernas no processo. Preparado, me coloquei em cima dela, com as pernas abertas, e ela mais ainda. Pus meu membro em sua boceta e comecei, com os movimentos básicos de vai e vem, suas mãos entrelaçadas nas minhas, Vlada passando a gemer e ofegar ainda mais, e eu lá, metendo gostoso em sua vagina (com pouquíssimos pêlos), a menina tentando contorcer suas pernas, mas sendo impedida, suas coxas batendo na minha, Vlada revirando seus olhos como se estivesse chapada, sua boca abrindo, eu pude sentir sua respiração num crescendo, como se fosse explodir. Livrou suas mãos das minhas e me abraçou, desesperada de prazer, querendo colar meu corpo no seu especialmente para o momento final. Ficamos um pouco de lado. Nosso tesão andava de mãos dadas no momento, ela pôde receber o peso de meu corpo sem chiar, em nada. Socando, socando, socando duro naquela boceta, imagino por quanto tempo ela não transava, mas eu estava ali para realizar todos os seus desejos. Passou a guinchar, mas de forma doce ao meu ouvido. Estávamos quase lá, quase lá. Eu praticamente a levantava na metida, até quando ouvi seu grito de “pára, pára”, e parei. Fiquei de joelhos na cama e Vlada massageava a vagina, ofegando como uma maratonista. “Ufff... uff... nunca transei assim”... sussurrou, com parte da língua de fora. “Vamos continuar, vem”.

E novamente nos encaixamos. Vlada continuou por baixo, com as pernas bem abertas, mas não no seu limite. A beijei novamente enquanto colocava meu pênis dentro dela, reiniciando os movimentos frenéticos de outrora. Ela me acariciava, contrastando totalmente com o ritmo da transa, nem sempre suas carícias adquiriam um bom tom, pois no calor do vai e vem sua mão escorregava para a superfície da cama, sua boca gemia baixinho, mesmo sendo tampada pela minha, com minha língua dominando o céu de sua boca, se viu dominada por mim – sem fazer força, pois seu corpo era bem delicado para tal, e também, por ela ter pedido para que não forçasse tanto – seu corpo também e cada vez mais fui metendo, metendo e metendo, em um momento retirei minha boca da sua, deixando-a respirar livremente, não queria que sofresse um piripaque ou coisa parecida – desde a primeira metida concluí que estava diante de uma inexperiente no sexo – , mas cada vez mais nos mantemos unidos. Chegou a arranhar meus bíceps, suas pernas dobraram-se e novamente cheguei a levantar seu corpinho com o vigor de minhas metidas, Vlada estava embebida de tesão, talvez até mais que eu. Seus gemidos aumentaram, porém, sem perder o tom gracioso e – porque não – inocente. Os dedos de seus pés mantinham-se abertos, os próprios pés giravam de forma mui esquisita, mas eu não poderia fazer nada – e nem queria, uma coisa tola dessas não interromperia nossa transa – e cada vez mais que eu metia, cada vez mais que suas coxas esqueléticas batiam nas minhas coxas grossas Vlada gemia e gemia, de forma que dava pena, mas eu tinha que continuar. E continuei, em especial, no clímax da relação. Estava chupando seu pescoço, sua cabecinha direcionada ao teto, quando o orgasmo veio: Vlada contorceu-se quase que por completo e eu segui sua ação. Gritou forte, suas pupilas azuis-claras sumiram por um momento. Ejaculei em sua boceta de ladinho, com as pernas bem entrelaçadas, meus braços enterrados em suas costas, os seus braços nas minhas. Ofegamos bastante, mas pude perceber que minha parceira debulhou-se em lágrimas durante o orgasmo. Seus olhos e a borda dos mesmos impregnaram-se de lágrimas, que caíam com liberdade em sua face, chegando à boquinha. Vlada levantou seu tronco da cama, sustentando-se na força de seus braços magros enquanto eu limpava seu rosto com meus lábios. “Relaxe, quero que relaxe, querida”, disse a ela, calmamente, enquanto a envolvia em meus braços novamente. “Eu não costumo falar lugares-comuns porque acho uma merda, mas não posso deixar de dizer num momento como esse: foi bom para você?”

- Foi ótimo – respondeu ela, estática quando fui secar suas lágrimas. Ainda estava bem tímida e um tanto confusa. - Você... quase me matou, sabia?
- Haha, não brinca – respondi, acariciando seu rosto e os cabelos louros. - Te acho muito bonita e acredito que você...merece coisa melhor que terminar a vida dando sua própria vida nas passarelas. Sem contar que você certamente irá perder espaço para a modalidade de “manequins gostosas”. Quero o melhor pra você.
- Eu sei – disse ela, retirando resquícios de lágrimas em seus olhos. - Disse que quer ficar comigo e tudo mais, mas eu já estou cansada de promessas, muita gente já me enganou.
- Me dá um voto de confiança – falei, deitando-a na cama. - Façamos assim: resolva tudo o que tiver de resolver na moda e quando terminar, me procure. Te darei meu e-mail, todos os meus contatos, não vou te deixar na mão.
- Hum... - Vlada me fitou seriamente por alguns segundos, minutos. Acariciou meu rosto e me engoliu com seus olhos claros, sua boca entreaberta e seu semblante ostensivamente pensativo, como se estivesse refletindo sobre o que faria a partir do dia seguinte ali mesmo, refletindo sobre mim e minha proposta. Talvez estivesse pensando que eu não passava de um enganador de merda, de um devorador acostumado a ludibriar “novinhas” como ela...ou talvez estivesse pensando que quando terminasse seu ciclo no mundo da moda arrumaria um namorado deveras inexpressivo, um bunda, talvez um sujeito semelhante à sua personalidade, para que não se sentisse mal durante toda a sua vida. Mas, eu realmente queria ficar com ela. Tinha a questão da CL, mas não podia depositar toda a minha confiança em uma oriental que vaga por aqui e por ali, desejando (não abertamente, ainda) não manter um compromisso decente. À minha frente eu tinha uma guria bastante jovem e que até poderia tirar sua pouca idade para curtir o que quisesse, mas eu podia ver em seus olhos que desejava uma vida tranqüila e com um companheiro seguro como eu. Ela não queria um babaca que se morresse, ninguém sentiria falta, um sujeito tão sem graça, tão merda que nem sabe o porque de ter o sopro de vida. Eu já estudara Vlada durante todo este pouquíssimo tempo que estávamos juntos. Seu jeito de ser, trejeitos, modos. Fiz uma proposta séria. Cabia a ela aceitar ou não.


Última edição por Admin em Seg Dez 06, 2010 5:24 pm, editado 3 vez(es)
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Womb (Prelúdio: Sidney) Empty Re: Womb (Prelúdio: Sidney)

Mensagem  Admin Dom Ago 01, 2010 2:40 am

Mãos dadas com ela. Me aproximei e ela me descansou seus dois braços, sossegando-os nos meus ombros, enquanto olhava para baixo, talvez pensativa, talvez arrependida de alguma coisa, talvez pensando que minha proposta seria a melhor coisa a aparecer em sua vida, visto que sou um sujeito garboso, de boa índole e decente. Se fosse qualquer destes cabras poderia largá-la e não ligar no dia seguinte – se bem que isso ela poderia querer, quase todas as mulheres são dessa forma – , mas entendeu que eu realmente gostava dela. Não tinha porque mentir, mesmo não me conhecendo a fundo já dava para perceber. Bom, nem todas as pessoas eram dotadas desse dom de percepção. Comecei a mexer nos longos cabelos dela, pegando-os nas costas, vendo-os deslizar em minhas mãos pesadas, como macarrão recém-saído da panela. A impressão era de que suas madeixas foram descoloridas, ficando ainda mais louras, mas sei que sua cor natural era um amarelo clarinho, saindo do castanho-claro, bem claro, certamente que mexia seu cabelo por motivos profissionais, o melhor penteado e a melhor coloração para cabelo, casando com a melhor roupa, etc. Seus braços esticados eram dois bambus e enquanto a água caía em suas costas e deslizava em seu tronco e abdome para, enfim chegar aos membros inferiores e as partes íntimas eu passava as mãos em suas costas, aplicando uma massagem. A deixei relaxante em segundos. Foi quando eu desliguei o chuveiro e quis notar uma reação naquilo tudo. Vlada permanecia olhando para baixo, como se estivesse dormindo, as mãos soltinhas... inclinou a cabeça a ponto de encostar em meu peito, quase na altura do pescoço, do gogó. Foi aí que dobrou os braços próximo à minha nuca e encostou ainda mais seu corpo com o meu. Seu rosto estava tão empapado com a água e Vlada começou a gemer baixinho que não podia saber se estava chorando ou murmurando alguma coisa, sua cabeça prosseguia baixa. Ergui com leveza sua cabecinha. Vlada olhava para mim com naturalidade, boa entreaberta e olhos cintilantes, como se esperasse alguma atitude minha. Seus cabelos jogados para trás lhe conferiam uma beleza extraordinária e eu comecei a me excitar novamente, mas estava sendo fustigado pelo sono. Suas pálpebras também se fechavam, mas a boquinha mantinha-se imóvel. “Vamos dormir?”, perguntou. Concordei sem dizer uma palavra.

Vlada usou um roupão, enquanto eu preferi utilizar minha calça e a camisa para dormir, estava meio frio ali dentro, mesmo com um aquecedor. Como ela não usava nada por baixo demorei para cancelar minha excitação, fui deitar, mas me esqueci do meu probleminha. Acabei escorregando para debaixo da cama, um local mais quente e escuro, do jeito que eu estava acostumado. A russa, óbvio, estranhou meu ato, levemente assustada, como se estivesse diante de um monstro ou alguma coisa parecida – bom, eu era um monstro de qualquer forma mesmo...

- Vai dormir aí embaixo? - perguntou ela, deitada de bruços na cama, olhando para mim de ponta-cabeça. - O que houve contigo?
- Eu...não me sinto muito bem dormindo em camas – respondi para ela, também estando de bruços. - Aliás, esqueci de pegar um lençol, aqui está meio empoeirado – disse a ela, saindo tão rápido debaixo da cama que a fiz levar um baita susto.
- Até agora não imaginei que tivesse alguma estranheza – disse ela, impressionada de fato, sentada na cama e pondo a mão direita no peito, demonstrando estar pasma. - Poxa, eu nunca deveria me surpreender com as pessoas, sempre há uma coisa para mostrar. Vai me dizer que você também costuma subir pelas paredes?
- Não brinca, tenho um certo trauma em relação à dormir em camas, mas não quer dizer que você também tenha de dormir embaixo dela – respondi para ela, pegando um lençol rosa do pequeno armário. - Não se preocupa, certo, amor?
- Certo... tudo bem – ao concluirmos a conversa, estendi o lençol embaixo da cama e pus um dos travesseiros lá, também. Peguei um cobertor pesado, também posto lá. Enquanto fazia esta tarefa Vlada me observava sentada na cama, estupefata, talvez sentindo-se inútil, sem nada para fazer. Cheguei perto dela e a beijei, dizendo “boa-noite” e deslizei para minha toca improvisada, colocando o cobertor em cima de mim, preparado para dormir. No dia seguinte eu teria de me deslocar para a rodoviária Novo Rio, para pegar um ônibus até Paty do Alferes, no intuito de pegar minha filha, uma linda ruivinha sardenta bastante esperta de nome Bonnie. Bonnie Francisca Wright Silvestre. 1 minuto depois, vejo Vlada aparecer embaixo da cama, em minha toca, querendo dormir comigo. Adorei, lógico. - Quero fazer parte da sua esquisitice – disse, sorrindo abertamente. Entrelaçou suas pernocas nas minhas e deixou o rostinho próximo ao meu. Dormimos.

Quando pequeno costumava relatar meus sonhos numa espécie de diário, feito num caderninho espiral meio surrado e quadriculado. Era o meu tesouro, não deixava ninguém ler, muito menos meus pais. Também sempre desenhava os melhores momentos de meus sonhos, para que eu não me esquecesse, e acabei não me esquecendo num momento em que desmembrava, matando pessoalmente os publicitários criadores das propagandas de cerveja. Desmembrava também torcedores do Vasco da Gama (é, torço pro Flamengo, se fode aí) e qualquer machão destes acima do peso que faziam da cervejinha, do pagodinho e do churrasquinho de fim de semana o seu ritual. Mas, nada me irritava mais que os publicitários, do maldito estudante de publicidade até o empresário. Eu tinha preparado um verdadeiro arsenal, não queria deixar passar ninguém e por isso mesmo, fechei as portas de uma sede de uma cervejaria bem famosa. Entrei e depois tranquei tudo, encurralando-os ali dentro, e matei todos, disparei centenas de balas, esfaqueei, estripei, arranquei com os dentes, acabei com todos eles, nem as mulheres escaparam. Depois de tudo isso, deixei-os todos amontoados, o chão fora tomado pelo sangue magenta e negro, parte dele fora derramado naturalmente nas escadas. E, como em um clichê fodido de filme, me sentei num amontoado de corpos, mastigando com tranqüilidade uma orelha feminina. Com uma mão só, arranquei a cabeça de uma loura de farmácia e aproximei de meu rosto. Repentinamente, abriu sua boca e seus olhos castanho-claros, dizendo para mim “Essa não é a saída”.

Eu ainda dormia como um bebê quando a modelo retirou-se embaixo da cama com extrema leveza, subindo de costas, quando resolveu ligar o computador. Pôs o cabo na tomada e ligou o estabilizador, calma, o dia ainda não amanhecera. Marcavam 5 horas da manhã em seu relógio de pulso. Antes de fazer qualquer coisa com o micro, foi até o banheiro, onde deu uma mijada demorada e logo depois lavou as mãos, além de lavar o rosto – não havia trazido escova de dentes, pois não sabia que dormiria fora. Utilizou-se do momento clichê de ver-se a si mesma no espelho, o rosto bem molhado e alvo como se emanasse uma espécie de aura para a área do banheiro. E ficou ali por algum tempo, fitando-se e pensando sobre o que faria em sua vida. De fato, eu merecia ou não ficar com ela? Um dia a fonte no mundo da Moda secaria, até poderia estar cheia de grana àquela altura do campeonato, mas – segundo ela – não era tão importante quanto ficar com alguém. Até pouco tempo considerava-se uma pessoa fria e sem perspectivas de vida, embebida pela falta de personalidade no mundo na qual fazia parte. Mas, e ali? E a partir daquele momento? Suas mãos firmavam-se na borda da pia, como se fizesse força para quebrá-la, ao mesmo tempo que fazendo isso buscasse a melhor resposta para sua vida, mas viu que não adiantava. Mil coisas inundavam sua cabeça no momento: “Shakira ficou uma merda depois de loura, a Copa de 2010 foi um lixo sem igual, não se fazem mais vampiros como antigamente...”, entre centenas de outras coisas. Secou o rosto, deu descarga no vaso e fechou a porta do banheiro, rumando para o quarto. O computador já estava ligado e por fim, adentrou ao MSN, no intuito de conversar com uma de suas amigas, qualquer uma. Precisava de conselhos, eles eram tão necessários quanto água em um deserto. E eu, ainda dormia, mas sem roncar, porque quem ronca, boa pessoa não é.

Vlada foi agraciada com a presença de uma amiguinha, certamente uma madrugueira, uma brasileira.

Danie acabou de entrar:

Vladika [kat] diz: ola queria muito falar cm voce

Danie diz: oi, tudo bem? Não acredito que hje voce madrugou, kabei de acordar!

Vladika [kat] diz: tb acabei de acordar, komo estah sendo a temporada em são paulo? Soh fui aih 2 vezes

Danie diz: a mesma coisa de sempre, Mas ganhei uma graninha bacana com o cachê deste desfile. Hje vc vai embora, né?

Vladika [kat] diz: yep achei o Rio um lugar legal mas disseram q aki tinha sol...

Danie diz: ué, falei pra ti antes ke voce veio no inverno, deu nisso!!! mas ñ foi culpa sua, neh...

Vladika [kat] diz: ñ mesmo, aki tah nevando, até. Mas quando faz sol eh akela coisa neh...eu pretendo retornar mts vezes para ka, ateh pq parece ke tem alguem ke se importa muit comigu

Danie diz: seriu???:!!! algum estilista, aglum dono de grife, assim vc fika mais rekisitada!!!!!!111

Vladika [kat] diz: nda éh outra koisa. Konheci um rapaz, um homem mt legal

Danie diz: seriu??? vc foi avisada de que ñ podia perder tempo se apaixonando pq vai akabar ferindo essa pessoa, afinal vc viaja muito. Klaro que com isso vc mal veria a pessoa...

Vladika [kat] diz: eu sei...estou mais komo turista q komo trabalhadora, tenho poucos dias mas foi o suficiente. Sei lah, acabei me...enroskando kom o sujeito assim mesmo, fui apresentada a ele pelo julio.

Danie diz: putz, ele eh um paizaum pra gente, mas ele sabia que as coisas chegariam a este pontu???

Vladika [kat] diz: u q vc acha???//

Danie diz: eh, ele sabia. Mas, peraih, vc gostou msm gosta msm desse cara???1

Vladika [kat] diz: bom eh o ke eu to sentindo...ele eh mais velho...

Danie diz: quantos anos mais velho?

Vladika [kat] diz: ele tem 40anos...mas nem parece q tem! Parece ter uns 30, seriu! Fala bem, alem de ser muito legal...mais legal ke kalquer cara ke conheci de uns anos pra ká...talvez seja o melhor deles

Danie diz: hahahashshs esse cara deve ser um deus entaum. Maravilhoso

Vladika [kat] diz: ele naum eh muito bonito...eh escuro bem mais escuro ke a gente, tipo eh o oposto da nossa cor

Danie diz: negro???

Vladika [kat] diz: deve ser, ele eh indiano, naum sei se os indianos saum negros ou simplesmente morenos...isso, aki chamam estes bronzeadinhos de morenos

Danie diz: isso mesmo. Vcs tiraram alguma fotenha ou algo assim???

Vladika [kat] diz: naum ainda naum...sei ke ele eh um kara conhecido aqui no Rio...eh meio rico mas parece ter poukos amigos tem uma filha e tudo mais...eu ñ ligo pra crianças gosto delas, keria ter uma filha e seria bacana se eu começar a treinar cuidando dela...

Danie diz: AH naum acredito ke vc naum tem nada dele! Tah com akela máqina digital q te dei?? tah na tua bolsa???

Vladika [kat] diz: q? C quer ke eu tire fotos dele agora?? ele tah dormindu, sem contar q vc ñ gostaria q eu tirasse fotos suas dormindo. E naum keru acordalo por isso, depois c conhece ele, vai conhecelo de qualker jeito mesmo...

Danie diz: komo vc tem tanta cereza assim??? alias vc nem tem segurança de q vai voltar pro Rio e ficar

Vladika [kat] diz: e pq ñ fkaria? Eu tenho 22 anos de idade respondu por mim. Jah sai de kasa para naum voltar para morar e eu fikando com ele de vez talvez poderia me sentir feliz pelo menos 1 vez na vidah...deus se existe tah me devendo essa, há tempos...

Danie diz: vai me desculpar mas eu sintu q vc estah metendo os pes pelas mãos...

Vladika [kat] diz: q? Ñ entendi

Danie diz: eu falei q vc pode se arrepender, eh uma decisaum delicada demais. Falo komo amiga, naum deixe o impeto tomar konta

Vladika [kat] diz: eu sei eu sei mas ele me parece um kara decidido. Disse mesmo ke eu poderia fikar com ele e tudo mais, ser sua esposa...

Danie diz: vc eh ainda mt nova...curte mais um pouko a vida

Vladika [kat] diz: eu sei eu sei disso mas ele me ker perto...pelo menos eh o que parece...disse a ele ke kquando resolver tudo e eu estiver pronta mesmo estarei perto dele...

Danie diz: estipulou uma data certa?

Vladika [kat] diz: naum, mas serah em pouko tempo. To convencida disso e naum mudarei de ideiam

Danie diz: ah, fala seriu vai deixar toda nossa diversaum por causa dum velho???

Vladika [kat] diz: eu meio que to cansando disso...e se ele for a pessoa errada volto à minha vida normal.

Danie diz: ah e vc acha ke seria taum fácil? E se ele for um psicopata????

Vladika [kat] diz: HUAHAUAHAUHAUAUAHUAHUAHUAHAU ele naum mostrou uma pitada disso ateh agora...fora a peculiaridade dele de dormir embaixo da cama rsrsrs

Danie diz: ele dorme embaixo DA CAMA?? esse kara eh maluco, larga dele!

Vladika [kat] diz: naum, naum, posso me adaptar a isso. Soh espero ke ele naum seja casado ou algo assim...bom júlio disse q naum, entaum...eu preciso ir estah amanhecendo e eu preciso tomar um banho e me arrumar vou voltar pro hotel

Danie diz: ok tudo bem...mas fikei realmente intrigada kom o ke disse...ele dorme embaixo da cama. Se dormisse em um caixao acharia ke fosse um vampiro rsrsrsrs

Vladika [kat] diz: rsrsrs

Danie diz: mas se ele tah te fazendo bem tudo bem. Espero q vc naum quebre a kara por causa dele, jah sofreu o bastante

Vladika [kat] diz: ele me parece ser uma companhia proxima da perfeição

Danie diz: ah, vem ká, me diz uma koisa..vcs transaram?

Vladika [kat] diz: hein?

Danie diz: vcs fizeram amor? Transaram?

Vladika [kat] está offline.

Vlada desligou o computador e pôs a cadeira onde sentou no fundo da mesa, embaixo dela. Dera por encerrado a conversa com sua amiga, até porque se mostrava tímida demais para conversar sobre sexo. Pensara o quanto se entregou naquela noite, algo que nunca havia feito com tanta devoção anteriormente e possivelmente tornaria a fazê-lo de forma tão tardia que o sujeito teria de insistir demais para que repetisse o feito. Digo, não qualquer sujeito e também, ela teria de estar afim para aquilo. O mundo da moda não a proporcionava sujeitos decentes, nem mesmo os homossexuais ostentavam este adjetivo, a vida nas passarelas, para ela, configurava em uma vida suja com pessoas sujas, onde só poderia confiar no cachê que recebia após os desfiles. Daí, chegava a hora em que teria de sentar a bundinha magra em um banco – estofado ou não – e pensar sobre os rumos que estava tomando em sua vida. Certo que poderia obter diversão, o dinheiro ia e vinha de forma espantosa, com ele ela poderia ter qualquer coisa, com sua fama – mesmo que pequena, comparando com as top models que enraizaram-se na cabeça até de quem não entende porra nenhuma sobre moda – , mas ela não queria, não almejava repetir o feito. Sem enganar a si mesma, não queria o sucesso estrondoso e massacrante para si. Um dia retornaria para a tranqüilidade, a calmaria tão acostumada com a lourinha, algo para ela tão semelhante ao pó - “do pó viemos e do pó voltaremos” - algo que, pensara recentemente, poderia readquirir, com algumas pitadas inovadoras e picantes, na companhia de Sidney Silvestre. Ao mesmo tempo que considerava-se tão imbecil por depositar sua confiança em um sujeito que conheceu em uma noite, no dia anterior. Considerou a última temporada de desfiles um tempo bom para pensar direito sobre isso, tinha certeza de que não tomaria uma decisão tão cedo, não queria agir impetuosamente a se foder bonito por isso. Sofreu em momentos semelhantes e não se achava a pessoa perfeita para sofrer por causa de si mesma. Vivera num impasse relâmpago, pois convencera-se de que não estava diante de um sujeito tolo, um caso perdido, alguém que iria se aproveitar, jogá-la ao fracasso.

Despertei ao sentir um calor – não intenso – nos pés, estes foram descobertos quando eu me enrolava com Vlada durante a dormida. Dei uma olhada no lençol pesado em que dormimos e notei a enorme bagunça, parecendo que realmente rolamos e rolamos – mesmo sem saber – durante toda a noite. Eu tinha sono leve, não sabia sobre ela, se dormia como uma pedra ou acordava a qualquer toque ou ruído, como eu. Eu não tinha o costume de rolar no chão e no caixão enquanto dormia, então, ela quem fez. Se ficássemos juntos de fato teria de me acostumar com isto, aliás, qual o problema em um feito destes, quer ficar incomodado com isso? Imbecil.

Levantei meio vagaroso, obviamente sem a mesma agilidade de antes. Tratei de me espreguiçar, preocupado em estalar todos os meus ossos, inclusive os do ouvido, mas não conseguia. Não era problema. Preocupei-me mesmo foi com Vlada, que, se eu tivesse uma pitada a mais de sorte poderia encontrá-la se lavando no banheiro, sua ausência naquele quartinho fazia pipocar em minha mente a hipótese (dolorosa, embora eu seja um pegador nato) de que teria dado no pé, saído fora. Se fosse isto, eu poderia arrastar minhas mãos em minha testa explicitando frustração, pois queria ficar com ela, sinceramente. Como dito, eu não confiava mais em CL tanto quanto antes, Vlada poderia tomar seu lugar gradativamente e eu estaria disposto a aguardar o fim de seu ciclo de desfiles, como queria sair em um futuro próximo poderia suportar. O plano de criar uma família mais próxima da perfeição (um indiano, uma inglesinha e uma russa, todos radicados no Brasil, os neo-cariocas) ruiria e eu retornaria às expectativas acerca de CL. Saí do quarto e procurei por Vlada, sem entoar uma palavra em minha boca. Mal saí do cômodo e já senti um cheiro esquisito embebido com ar quente, espalhando-se em meu rosto como algo denunciador, mostrando que eu não estava sozinho naquele apartamento. Que bom. Este ar quente assemelhava-se àquela espécie de energia emanada por alguns personagens do filme “Donnie Darko”, não lembro se o nome chamava-se Cellar Door, até agora não entendi com perfeição o filme. A tal energia era representada por um corpo gelatinoso e meio aquático que nascia do tórax dos personagens e acabou voando pela casa. O cheiro esquisito, + o ar quente irrompia do banheiro, porta fechada e gotas d'água pingando provavelmente da pia. Ela estava ali, era certo. Não resolvi bater na porta, sequer forçar a entrada (estava trancada), fui ver na fechadura. Fitei Vlada com o corpo inclinado, quase de cócoras, com a bunda (vestida com calcinha branca e bastante limpa) virada para a porta, e não pude ver seu rosto, mas ouvi o que estava acontecendo. Seu braço mexia na frente, como se estivesse preparando algo para meter na cara, e quando parou seguiu-se um fungado forte. Mais 2 fungados, fracos. Qualquer criança de 11 anos saberia que ela estava cheirando um pó e que se trancou justamente para arrumar tudo, se alguém batesse a porta. Com minha força poderia arrebentar com a fechadura, mas decidi mantê-la intacta, não queria causar danos ao hotel, também não queria dar a impressão de que eu estivesse puto da vida com Vlada. Entretanto, era algo incômodo e que eu não poderia deixar passar batido. Me disseram que, até a primeira metade dos anos 90 cocaína – no Rio – era chamada de brizola. Ex-governador de bosta.

Bati a porta, com leveza – o suficiente para ela atrapalhar-se e quase cair de cara no chão, um de seus pés bateu no rodapé próximo à porta, fazendo a guria gemer de dor por alguns poucos segundos. Pôs com rapidez toda a cocaína que restou no fundo da pia e abriu a torneira, diluindo tudo. Jogou o papel pardo no lixo e foi ao espelho, passando água no rosto e afastando o cabelo, querendo passar sobriedade. Confesso que dei minhas risadinhas presenciando seu desespero. “Vladinha”, falei, fazendo-a dar um pequeno salto, sabia que eu estava próximo. Afastei-me um pouco da porta quando a guria aproximou-se para abri-la. E abriu meio trêmula, demonstrando nervosismo claro. Vlada já estava de banho tomado, seus cabelos louros quase brancos mantinham-se soltos e úmidos, e usava (além da calcinha branca sem desenhos ou babados) uma camiseta branca bastante apertada, que fechava acima do seu umbiguinho. Eu podia ver seus mamilos duros como pontas de lápis apontando para mim e pensei em acariciá-los ali mesmo, mas me contive.

- Bom-dia, amor – disse a ela, sorrindo de forma simples. - Dormiu bem?
- Dormi sim, querido. Bom-dia – respondeu ela, pegando minhas mãos e me puxando para ela, me beijando docemente. Ao me inclinar para beijá-la vi resíduos de coca em sua narina direita. - Ah, desculpe toda aquela bagunça onde dormimos.
- Sem problemas, mas mudando bruscamente de assunto... você não iria mentir para mim, certo? - perguntei, ainda com as mãos dela segurando as minhas.
- Não, não mentiria – respondeu, como de brincadeira, sorrindo de forma constrangedora.
- É sério.
- Não, não mentiria – reiterou, desta vez séria.
- Sei...fique parada - suspirei, retirando minhas mãos das dela e colocando meu indicador em sua narina direita, leve. Retirei um pouco da cocaína dali – Podia ter me dito que gosta de cheirar.
- Hum...olha, eu não “gosto” - murmurou ela, visivelmente constrangida. - Eu... eu... er...comecei com isso nos bastidores, me ofereceram tanto que não podia recusar. Acabei me habituando a isso tudo, entrei... entrei de cabeça.
- Haha, mais um motivo pra você sair fora – reforcei, cruzando os braços. - Há quanto tempo tá nessa? Não pense que estou te interrogando, mas é bom saber de algumas peculiaridades dos nossos companheiros, nada melhor que sermos transparentes, certo?
- Certo – respondeu, sentando no sofá da sala de estar. Depois levantou-se e andou em minha direção, decidida - Só comecei há cheirar no mês retrasado... bom, espero que não vá me passar um sermão ou coisa parecida, não costuma funcionar comigo. Encare isso como uma coisa boba como comer coisas do chão, se realmente ficarmos juntos vou dar um jeito de parar, ainda tem como parar. Aliás...vou começar a parar a partir de agora...mesmo quando eu voltar pro hotel onde meus amigos estão. Você...não é o primeiro que me diz isso...mas cheirar é tão danoso quanto beber, e sei que você bebe – tagarelou, pondo as mãos em minha cintura, falando e cuspindo na minha cara.
- Ok. Vou tomar um banho – disse a ela, revezando meu olhar nos seus olhos e em sua boquinha. Podia sentir sua respiração, o quente invadia meu rosto como nunca. Demorou para retirar seus braços magros de minha cintura, quando fui me dirigir ao banheiro. Deixei a porta entreaberta, tirei a roupa e liguei o chuveiro. Como previa, Vlada pôs primeiro a cabeça entre a porta, depois parte de seu corpo. Simplesmente me viu tomando uma ducha e eu fingi que ela não estava ali, portanto, prossegui com o banho. A modelo mordia os lábios inferiores ao mesmo tempo em que fitava-me com sofreguidão nos seus olhos.

Ao terminar o banho vi que Vlada já estava arrumada, e bem arrumada. Usava botas de couro negras com meias vermelhas, costuradas ao calçado, uma calça estilo legging negra e que brilhava ao sol. Sua camisa branca quase adquiria transparência, feita para ser desajeitada, um tanto folgada no corpo de uma magrela como aquela mulher – dava para ver as cores escuras de seu sutiã entre ele – , a camisa era tão longa que formava um amontoado na altura das partes íntimas de Vlada. Por cima um paletó xadrez com vermelho e preto em sua predominância, além de bastante curto – o punho da roupa apertava quase na altura do cotovelo – e para completar, um cordão com pequenas jóias certamente falsas. Seus cabelos louro-esbranquiçados eram domados por um rabo de cavalo feito no topo da cabeça, dando vista à testa quadrada da menina e seus olhos contornados por lápis e um tantinho de maquiagem e blush. O lápis deixara seu olhar bastante expressivo, além de proporcionar uma aparência intimidadora e um pouco assustadora para certas pessoas. O curto paletó coube em seu tronco como uma luva, explicitando sua excelente predileção, uma boa combinação que poderia fazer as gurias por aí mortas de inveja. Como modelo, tinha de estar obrigatoriamente afiada quanto ao que vestir, certo? Mas, queria saber de onde retirara aquelas roupas, visto que não caberiam em uma bolsa tão pequena como a sua. Encuquei com isto por alguns segundos, logo depois deixei de lado. Vlada estava absurdamente linda e enquanto eu me vestia chegou bem perto de mim – há centímetros de meu rosto – e perguntou como estava. Como tinha o seu aval, tratei de tocar a superfície da calça apertada que usava, misturando a lascívia com a curiosidade, toquei vagarosamente, sentindo a textura da roupa e o poderio que suas coxas esqueléticas tinham sobre mim. Me assistia sem dizer um pio enquanto a apalpava, passando a mão com certa leveza em suas coxas, por trás delas, pela frente e subindo até chegar às suas virilhas – neste estágio Vlada riu afastando minhas mãos. “Você está muito bonita, poderosa mesmo”, disse a ela, olhando em seus olhos penetrantes. Realmente, se estivesse no peso ideal – e eu acreditava que teria de batalhar bastante para isto – me encantaria a ponto de passarmos o dia inteiro fodendo, unidos como gêmeos siameses na cama de minha casa, mas mesmo fraca desta forma por quê não? Suas mãos quentes passavam pelas minhas – não tão quentes quanto as da russa – e abaixou-se, preparando-se para dizer alguma coisa. Acariciou meus lábios e mordeu os seus, talvez pedindo para que transássemos antes de sairmos do hotel. Bem, ainda tínhamos um tempinho, então poderíamos aproveitar o momento, mas eu não queria pedir sabe-se lá porque.

- Obrigada por me elogiar, acho que você está sendo sincero – disse ela, sorrindo genuinamente. - Está querendo me dizer algo?
- Hum... poderíamos dar uma transadinha gostosa antes de você voltar, não seria uma boa? - perguntei, com a maior cara de pau deste mundo.
- Que coisa... - murmurou ela, desconcertada, ainda sorrindo. - Cara, estou tão desacostumada com isso...vai me dizer que, se nós ficássemos juntos para valer, isso seria tudo o que faríamos? Sexo, sexo e muito mais sexo?
- Qual o problema? Mas, claro que poderíamos fazer outra coisa – disse a ela, acariciando carinhosamente os seus pulsos. - Olhando para ti sinto uma vontade imensa de ter um filho contigo. Claro que, quando tudo estiver certo para você. Não sabe o quão esperarei ansioso.
- Mas, não precisa ficar ansioso, querido – disse ela. - Aliás, você não sabe qual foi minha decisão.
- E...qual foi? - perguntei, começando a respirar com dificuldade, ansioso, inicialmente aflito.
- Vou te dar a resposta daqui há alguns dias, amor – respondeu, fomentando minha aflição. Vlada levantou-se e antes que desse um só passo peguei suas pernas e beijei calorosamente sua virilha direita e depois a outra. Passou a mão em meus ondulados cabelos e eu não cessei, subindo minhas mãos pesadas e marrons para suas nádegas, onde apertei com gosto os seus dois “gomos”, pude perceber que Vlada bambeava com minhas carícias. Após beijar suas virilhas (preocupado em deixar molhado de saliva, já que não queria que passasse vexame na rua) fiz descer sua calça legging e sua calcinha branca, estando diante de sua vagina. Vlada não dizia nada, apenas acariciava meus cabelos, então prossegui. Abriu suas pernas um pouquinho e comecei a chupá-la. Seus pezinhos contorciam-se, além de suas pernas, que imprensavam-se em meu pescoço grosso. Enquanto chupava com relativa tranqüilidade Vlada começava a puxar meus cabelos, em um misto de tesão com relutância, pois pude perceber ao vê-la (por poucos segundos) seus olhos fechados com força e a boca trincada, querendo balbuciar alguma coisa, mas não podendo, pois o prazer era tanto. E chupei, chupei, agarrando suas nádegas como duas pequenas almofadas, mas percebi que estava pensando muito em mim. Vlada poderia achar que o Sidney Silvestre resumia-se a apenas isto, ao sexo e ao tesão, estando disposto ali para ela poder brincar comigo quanto tivesse vontade, dando a impressão errônea (não obstante tudo isto) de que, se fôssemos casados eu a mataria de tanto transar, teria de ser posto em uma clínica para viciados em sexo, entre outras coisas. Eu não era viciado em sexo, meu problema era depositar todo o meu prazer em uma mulher que eu gostava muito, e Vlada Deslyakova não foi a primeira a ser fustigada por isto. Quanto às “peguetes” que arrumei durante minha vida a transa tinha menos significado, além de ser um artifício obrigatório, algo para selar o relacionamento deveras fugaz que construía e destruía com elas. E eu acabei enchendo a modelo russa desse prazer aparentemente insaciável, indomável, porque me afeiçoei verdadeiramente a ela (ao contrário das peguetes) e isto significava apenas parte da porcentagem relacionada a tê-la. Era o pouco, apesar de parecer o muito, e eu realmente senti desejo explícito em ter um filho com ela, de tê-la em minha cama sempre que precisasse, entretanto, pensava mais na minha necessidade que na necessidade dela. “Cara, estou tão desacostumada com isso”, sim, eu entendo com perfeição, e por isto, deveria me cuidar para não perdê-la de vez. Enquanto era chupada eu podia sentir o quão fazia força para arrancar um naco de meu cabelo. Suspirava: - Vamos embora, vamos embora.
- Tudo bem, vamos embora. Desculpa – murmurei para ela, levantando-me. Não poderia fazê-la chegar ao orgasmo, pois seria tarde demais para o nosso destino. Vlada, ofegante, foi ao banheiro, e eu sentei no sofá da sala de estar, lambendo os lábios e engolindo o que puxei para a boca, tal qual um animal irracional. Eu não poderia sufocá-la, pois isto iria afastá-la de mim para sempre...isso se o que acabei de fazer não a fez mudar de idéia. Também não poderia insistir com a pergunta “e então, o que você decidiu?” para não encher seu saco, mulheres sempre são mais instáveis psicologicamente que os homens, nas coisas do coração e da pegação.

E retornou, ajeitando o zíper de sua calça. Arrumei a cama e com tudo limpo, saímos do apartamento e trancamos. Pude perceber o quão me fitava, expressando absolutamente nada em seu rosto, talvez pensava demais e apenas sobre nossa relação e o que poderia acarretar se ficássemos juntos para valer. Jovens como ela geralmente mudam de idéia como quem muda de roupa, então, eu não poderia mais vacilar. Um calejadão de 40 anos como eu, que manja das putarias, que poderia dar aula sobre como pegar mulher, um “Level S” em praticamente todos os sentidos, sendo dispensado por um pitéu de 22 aninhos? NÃO COMPUTA!


Última edição por Admin em Seg Dez 06, 2010 5:57 pm, editado 3 vez(es)
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Womb (Prelúdio: Sidney) Empty Re: Womb (Prelúdio: Sidney)

Mensagem  Admin Dom Ago 01, 2010 2:41 am

Na recepção, paguei o pernoite e, ainda com as mãos dadas, segui com Vlada na saída, passando pela porta de mogno e rapidamente fomos fustigados pelo vento frio daquele dia. Achávamos que seríamos agraciados pelo calor, ou pelo menos por resquícios disto, mas não, a brisa fria foi suficiente para nos atingir, como se nossos corpos fossem trespassados, e quase trememos na base – digo, ela tremeu, não eu, sou forte pra caramba – e tive de ajudá-la a se equilibrar. Seria melhor se esperássemos um pouco para sairmos fora, mas não, ela não tinha tempo e nem eu, pois teria de subir para Paty do Alferes, e ela, rumando para o hotel de suas queridas amiguinhas. Era como se estivéssemos no sul do Brasil, em plena Serra Gaúcha, para se ter uma idéia, este vento filho da puta foi poderoso o bastante para fazer tremer uma mulher do frio, uma menina nascida em uma região deveras friorenta e prejudicial a cariocas e indianos acostumados ao ensolarado, como eu. Nesse caso, eu quem deveria bambear, certo? Acabou ocorrendo o oposto. E justamente quando Vlada ameaçou cair que minha mão direita tocou sua nádega com o maior cuidado, sem soar severo ou coisa semelhante, e minha outra mão tocou seu ombro, impossibilitando da guria entrar em contato com o chão cru e duro. Me abraçou – eu poderia estar de saco cheio destes abraços e de suas seqüências, mas ostensivamente comum em um pretenso casal como o nosso – e pude novamente sentir o calor gostoso de seu corpo sem a menor cerimônia...talvez, pela última vez. Sua boquinha queria encontrar a minha e acabamos chegando a conclusão de que seria péssimo para os dois deixar passar qualquer oportunidade de nos beijarmos – bom, pelo menos isso, já que ela parecia ter de negar fogo, de não querer transar, em ocasiões futuras – e nos beijamos, bem gostoso. Parecia a última vez, mas não era. Minha língua bem grossa encontrou a dela, uma lingüinha que mostrou-se recolhida, tímida, ao contato com a minha, e custou para enrolar... custara apenas 3 segundos, que considerei 3 dias. Nos encostamos em um pilar próximo a entrada do hotel e nos acabamos ali, beijando ardentemente e abraçando sem o menor pudor. Vlada já estava se acostumando com meu “modo de ação”, embora tivesse recuado em nossa última experiência sexual, quando lhe chupei esfaimado a sua vagina na sala de estar. Entre ósculos e abraços, esperei de forma aflita o seu pedido de afastamento, até que aconteceu e eu não fui surpreendido por isto. “Vamos nos atrasar”, suspirou para mim, enquanto eu demorava a retirar minha boca da sua, inteiramente. Lambeu os lábios e me olhava, encarando-me com gosto de vergonha. Pousou suas mãos esquálidas em meu peitoral, acariciando-o de leve. Abriu a boca para falar mais e eu estava pronto para o que der e vier. “Eu prometo que não vou te esquecer, mas, como você sabe, tenho de resolver meu problema o quanto antes...claro que não é um problema propriamente dito, mas preciso fechar meu ciclo antes de querer qualquer coisa com as pessoas. Sei que quer me ter, quer ficar comigo, quer casar, quer que eu gere uma criança, entre outras coisas, mas por favor, espere mais um pouquinho. Seria preferível que...você me honrasse até lá”. Ao dizer isto, senti um frio desagradável esfaqueando minha espinha, e não era por causa do clima.

- Está querendo que eu faça uma abstinência sexual até você voltar? - perguntei, abismado. Vlada notou, pelo meu drama, que as possibilidades de não “traí-la” por 1 ano ou 2 seriam nulas, zero total. - Mas, como vou saber se você não estará se relacionando, por pouco que fosse, com alguém no estrangeiro? - perguntei, certo de que iria colocá-la em uma sinuca de bico.
- Vai ser difícil termos um final feliz se um não confiar no outro – respondeu ela, tocando minhas bochechas com suas duas mãos. - Tá, não vou exigir isto de você, mas você também não exige nada de mim, certo? Então, fica desse jeito, vamos embora.
- Espera aí! - bradei, ao observar Vlada retirar-se do local com rapidez. Tal rapidez me incomodou como um soco bem dado na barriga. - Não estou vendo disposição em você para levar tudo isso a sério. Tá me dizendo para confiar em você, beleza, mas eu não sou um sujeito confiável neste aspecto. Não poderia ficar 1 ou 2 anos sem transar, você já deve ter sacado que sou um sujeito sedento por prazer. Claro que se ficássemos juntos de fato iria depositar todo este tesão em você, mas eu não agüentaria uma maldita abstinência até você voltar, isso é, se você realmente voltar.
- Tudo bem, é mesmo pedir demais de você – respondeu, friamente. Mais socos em minha barriga, que apesar de ser durinha, não poderia suportar por muito tempo. - Eu vou voltar, tem a minha promessa, mas veja se não deixa de falar comigo pelo MSN , no Twitter e pelo meu site na Supermodels, não me faça se esquecer de você, lindo. Ah, deixa eu anotar meu telefone, da minha casa em Omsk.
- Achei que não morava mais em Omsk – sussurrei, observando Vlada puxando um bloquinho de post it preto da bolsa chique e pegar uma caneta. Há centímetros de mim, compenetrada no que estava escrevendo, veio-me um maldito impulso em querer abraçá-la mais um pouco. Peguei o “vírus do abraço” da russa e possivelmente não ficaria curado até que ela fosse embora, por isso, agarrei sua cintura (provocando um gritinho tesudo vindo dela, me fazendo excitar) e passei a mão em sua bunda com gosto. Eu simplesmente estava viciado naquela bundinha magra, embora todo este prazer pudesse repelir sua presença de mim efetivamente. Eu não estava me agüentando.
- Aqui meu telefone, taradinho – disse para mim, colocando o número no meu bolso de trás, finalizando com um agarramento severo em minha bunda inexpressiva. Ri exageradamente, alegre e constrangido, contorcendo-me para que ela retirasse suas mãos do meu traseiro. - Vai ter que se acostumar com o meu lado safado, também. - Sem problemas, amor, sem problemas.

Eu nem sabia onde estava o meu carro naquele momento e nem pensei muito sobre isto. Tomamos um bonde até o hotel onde estavam as demais modelos, parceiras de trabalho de Vlada Deslyakova. Durante o trajeto, sentou-se colada em mim, estranhamente com o braço magro por cima de meus ombros, algo que normalmente eu teria feito. Poucas mulheres tomavam iniciativa em atos simples como este ou nos mais expressivos, como pagar a conta de um almoço para o cara. Não apenas em um país latino – e naturalmente machista – como este, mas em muitos outros países a mulher era tratada como uma “sidekick” do homem, lembrando os tempos da Bíblia, em que primeiro existia Adão e a partir de sua costela Eva fora gerada. Mulheres vinham em segundo plano e amargavam uma vida submissa aos homens em locais tão distintos como Brasil e o Japão, por exemplo. Minha Índia, também. Umas gostam da submissão, outras não. Minha impressão é que o mundo seria melhor se nós homens fôssemos submissos à elas. Bom, retiro o que disse, minha porção mulher está desabrochando, uiuiui!

Lembrei que não tínhamos tomado café antes de sair do hotel – acontecimento passado em branco por Vlada, não me surpreenderia se fosse de propósito – e já estava começando a me sentir faminto. Chegamos ao hotel das modelos e descemos, tranqüilos. Vlada, apressada, andou comigo de mãos dadas, em direção ao ônibus parado próximo ao local. Perto da porta, mochilas e bolsas, além de suas miguxas. Aproximou-se delas e as cumprimentou. Muitas branquelas e poucas mulatas ou negras – estas últimas se resumiam a 3 ou 4, tão magérrimas quanto a maioria. Ainda de mãos dadas comigo, apresentou-me às gurias, que demonstravam um misto de alegria contida, indiferença e contemplação. Minha mente pipocou com impressões sobre as meninas e o que elas achavam de mim, e olhei para Vlada enquanto rasgava elogios sobre minha pessoa, cantando loas a mim, tamanha a empolgação. Sorri embasbacado e ela, falando, revezava seus olhos nas amigas e em mim, como se eu fosse um figurão ou coisa parecida. Logo, me vi cercado pelas modelos, que perguntando coisas como “onde você achou um cara tão 'especial' dessa forma?” (provavelmente movida pelos elogios rasgados de Vlada), “tem certeza de que ele não é um manequim?”, como se nunca tivessem visto um homem másculo, forte e bonito como eu. Na boa, estas meninas devem conviver tanto apenas consigo mesmas que não me surpreenderia se fossem bissexuais ou lésbicas. Júlio Valeretto apareceu da porta do hotel, com óculos Wayfarer escuros, um colete bege e blusa de manga comprida branca, gravata negra, além de calça igualmente bege. Sua barba fora feita e ele não parecia tão gordaço como de costume.

- Bom-dia, Sidney – disse ele, apertando minha mão. - É impressão ou você teve uma ótima noite com Vlada?
- É, tivemos uma... ótima noite, sim – respondi a ele, meio cabreiro, pois ao mencionar “ótima noite” parecia fazer alusão à prostituição. - E você, o que andou fazendo?
- Estive trabalhando em um estúdio até às 3 da matina, depois voltei para casa. Agora estou aqui, preparado para viajar com minhas anjas para o exterior, você sabe. Vem cá – disse, puxando meu ombro com leveza contida – , imagina o que houve com o Luís?
- O que houve com o Luís? - perguntei, pensando o pior.
- Ele mandou a Sasha catar coquinho! - exclamou, observando minha expressão repulsiva. - Estava com a mina na mão e veio me cometer uma babaquice dessas! Juro por Deus que nunca irei arranjar encontro para ele!
- Seria melhor se arranjasse encontros para o Marcelo, ele tem uma cara imensa de que precisa duma de suas amigas para viver melhor.
- Hahaha, já pensei nisso, deixe comigo – bradou, me fazendo distanciar de Vlada, que me encarou com relativa preocupação. - Nada ficou acertado entre você e Vlada?
- Como assim?
- Ela não gostou de você de verdade? Digo, venho acompanhando esta moça há muito tempo, viajamos o mundo inteiro várias vezes ao ano e sempre considerei uma rapariga fria demais, quieta demais, ríspida e que costumava ter problemas com as demais colegas da firma. Tive de transferi-la umas 4 vezes, só agora ela sossegou o facho. Como você ama desafios acabei empurrando ela para ti. Pode me contar o que aconteceu entre os dois, ou pelo menos todos os detalhes? Sabe que está me devendo esta...
- Haha, agradeço imensamente por ter empurrado ela pra mim, mas não quer dizer que por isso eu vá contar “todos os detalhes”, cara... mas, acabamos nos gostando de verdade e ficamos com gosto. É isso – respondi, querendo logo pôr fim à conversa.
- Vocês transaram? Ela sempre me pareceu o tipo que custaria a ceder um beijo até ao cara que ela estivesse apaixonada – disse, apontando o gordo polegar para ela, que arrumava sua mochila e me encarava sorrindo. - Pelo menos me responde se isso aconteceu.
- Ah, dá um tempo, eu não fico perguntando pra ti como foram suas orgias com seus amigos, sério, dá um tempo mesmo, tudo correu bem e é só isso que você pode saber, na boa – respondi, aborrecendo-me, afastando-o de perto de mim. - Vai me dizer que você queria alguma coisa com ela?
- Eu queria, é passado, e acabei passando para ti porque acharia que ela se sentiria feliz com um cara que eu achasse capaz – me disse, de braços cruzados. - Não fico importunando a menina, já que você poderia pensar nessa possibilidade. Mudando de assunto – ao dizer isto, me bateu um alívio filho da puta – , ela irá ficar sem emprego futuramente, digo, pelo menos na Moda. Ela sabe que terá de engordar se quiser manter sua carreira.
- Tô ligado, mas eu estou contando com isto – murmurei para mim mesmo, sorrindo de forma lasciva. - Er... eu preciso sair fora, mas antes vou falar com ela.
- Está querendo fugir assim tão fácil? - perguntou Júlio, querendo me pegar pelo braço, mas me desvencilhei tão rápido, mais rápido que seus olhos cansados e oblíquos puderam alcançar, então me precipitei em me aproximar de Vlada, que permaneceu estática próxima ao ônibus, como se me aguardasse. Seu rosto exalava a aflição, e ao me aproximar abriu os braços para me aconchegar em seu peito. Feito, impressionamos nossos corpos ali, na frente de todos. Júlio observou abismado, as modelos soltaram gritinhos e riam, nos amassamos tão forte que nossos ossos (especialmente o dela) pareciam quebrar. Acariciou o ondular dos meus cabelos negros e tomou a iniciativa de me beijar tão gostoso que os ossos dos dedos de meus pés estalaram. Meteu a língua, dominou meu céu da boca, seu beijo fora tão agressivo a ponto de machucar minha gengiva. Seria o derradeiro? Estaria mesmo se despedindo de mim em definitivo? Não cometeria uma burrada dessas, eu estava enroscado com uma guria inteligente.
- Vou entrar no MSN, quase sempre entro, às noites. Não se esqueça de falar comigo, se estiver online e não falar comigo tomará uma bronca de fazê-lo passar vergonha – disse para mim, desferindo mais um beijão em minha boca, no final. Seus olhos azuis me engoliam com tanta expressividade. MAS, eu já imaginava uma despedida de teor picante e explícito como esta. - Não vou me esquecer de você, então, não me esqueça, cara. Vou voltar.
- Eu acredito nisso, amor – disse a ela, antes de arrancar mais um pedaço de sua amabilidade desferindo-lhe um beijão final. Minutos depois nos separamos e Júlio observou-me sorrindo, sendo o primeiro a entrar na condução. Depois, entraram as meninas, dando beijinhos (alguns debochados) e acenos para mim. Vlada tratou de sentar na janela, no lado em que podia me ver e quando o ônibus deu partida, acenou para mim, dizendo coisas como “volto logo, amor”, identificável em uma rápida leitura labial. Notei um cair de lágrima daqueles olhos forjados pelo frio da Sibéria. Por fim, se foram.

Fiquei em pé no mesmo local por mais ou menos 20 minutos, fitando o horizonte. O jeito era confiar no que ela disse, e Vlada também acreditava em minha dedicação para com ela. Estava realmente apaixonada, ou ao menos fingia muito bem. Não poderia dizer “dane-se” se for mentira, pois nos divertimos tanto neste processo que não pude deixar de fazer crescer um sentimento próximo disto, do amor, embora não cresse em uma coisa tão tola como esta. Bom, preciso pegar minha filha de uma vez.
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